O lado cômico da maternidade


1 comentário

Mais uma vez o céu deve estar em festa…

… pois o querido vô Ricardo se juntou à sua amada

Vó Zezé e vô Ricardo, janeiro de 2007

Vó Zezé e vô Ricardo, janeiro de 2007

Ele, alto, esbelto, pernas longas e fortes, braços incansáveis, olhar sereno, bigode fino e bem aparado. Sempre relaxado e tranquilo, pronto pra tirar uma sonequinha ou cuidar das plantinhas no seu quintal. Ela, pele morena, cabelos macios como algodão, olhar protetor e sorriso doce, estava sempre buscando algo pra fazer. Ressabiada como ela só, sempre achava que estava incomodando os outros, até mesmo na sua própria casa.  Mas apesar das diferenças, os dois tiveram em comum a fé inabalável em Deus e o amor que sentiam um pelo outro, mesmo depois de mais de 60 anos de casados.

O Seu Ricardo adorava contar histórias. Contava dos tempos que trabalhava na roça em Faria Lemos, da mudança pra cidade grande com seus 9 filhos pequenos, do seu duro trabalho de faxineiro na Mannesmann (do qual nunca reclamou) e de como conheceu a Zezé… Seus olhinhos brilhavam ao contar que foi ela (né, Zezé? – como dizia ele) quem transformou a sua vida e o colocou no caminho de Deus. “Chega, Ricardo, todo mundo já sabe dessa história”, falava ela constrangida. Mas ele continuava contando… (Dá uma olhada nos videos abaixo, cedidos pela prima Esther)

E como com ele não tinha tempo ruim, mesmo quando a saúde já não lhe permitia, insistia em fazer “estripulias”… Se não ficassem de olho, já ia ele com seu carrinho de mão cheio de massa pra reparar mais um rebôco da casa de um inquilino… Ou caminhar até a praça do bairro e voltar com duas sacolas pesadas de compras depois de ter feito pesquisa de preço em três diferentes supermercados… Ou caminhar sozinho até uma das favelas das redondezas pra fazer mais uma visita pra uma família necessitada…

E ele, que tinha o coração maior que o mundo, acolheu tanta gente, que chegava a esquecer de si próprio.

– Pai, tem gente na porta pedindo comida, mas a despensa tá quase vazia…

– Dá um cadiquinho de fubá pra ela, minha filha. Dá um tantinho de arroz e umas bananas… Não vai faltar pra gente.

                                                                * * *

E assim como ele tinha inúmeras histórias pra contar, também fazia parte de várias outras (né, tio Mateus?). Se é verdade, nunca vou saber, mas corre em boca miúda ser verídico essa e mais tantas outras histórias:

Tio Mateus: Ô pai, o senhor já ouviu a conversa dos dois cumpadres surdos?

Seu Ricardo: Não, Mateus, qualé  essa?

Tio Mateus:   – Ei cumpade! Tá indo pescá?- perguntou o primeiro

 – Não, cumpade, tô indo pescá – respondeu o outro

 – Ó, pensei que cê tivesse indo pescá.

Seu Ricardo: Num pesquei nada!

                                                         * * *

Também me lembro de uma conversa nossa, dos tempos que eu trabalhava na Venezuela e fui visitar o Brasil.

Ele: Ô minha filha, e qual é mesmo a capital da Venezuela?

Eu: É Caracas, vô.

Ele:  Ah, é Caracas… –  e depois de um tempo matutando, disse rindo: E esse nome é porque lá todo mundo tem caraca, minha filha?

                                                          * * *

Sem falar em algumas das frases célebres que ele deixou: “Firma no talo, cumpadre Henrique!”, “Deixa comigo que esse eu pego, Zezé!”, “Cês tão que nem Cael e Abim!”, “Isso é falta daquele lá de cima!”

                                                          * * *

E assim era o vovô Ricardo… simples, correto e humilde. Um grande exemplo e inspiração de vida pra todos que tiveram a honra de cruzar o seu caminho.  Um homem de bem que conheceu a felicidade nas coisas simples da vida e viveu exatamente o que pregou: o amor a Deus e ao próximo. “Sem aquele lá de cima não somos nada, minha filha!”

O texto abaixo da Esther retrata com perfeição a essência do Seu Ricardo:

 “pensar no meu avô me faz entender minha teimosia.
tenho certeza,
a minha teimosia é dele!

seu Ricardo, é a imagem da ternura!
o bigode bem aparado fica na beiradinha da boca
parece que escorreu até lá sozinho!
os olhos verdes pequenos sorriem pra quase tudo

em todas as visitas ele batuca os dedos compridos no forro colorido da mesa!
pensativo.
ouve pouco o que a gente fala!
mas imagino que dentro da cabeça dele existem muitos personagens reais vivendo causos antigos. e ele os ouve bem!
sempre que batuca na mesa, pensativo, em seguida ele conta um causo.
vez ou outra esses causos o fazem lembrar da morte.
quantos dos seus personagens já se foram, seu Ricardo?…
foram muitos!
às vezes ele conta nos dedos.
meu avô conta a morte nos dedos.
mas, como um bom Azevedo, ele sente na palma envelhecida da mão a sua vida longa!
e sorri novamente, agradecendo a Deus por tudo!”

                                                          * * *

Obrigada vô, por ter sido parte da nossa vida!

E obrigada a toda essa família forte e unida que tanto apoiou e cuidou da vó e do vô nos últimos anos, em especial nos últimos meses. Vocês são maravilhosos e cada vez sinto mais orgulho em fazer parte desta linda familia! Tia Rita, um abraço especial pra você. Seu desprendimento, dedicação e amor me fazem sentir uma profunda admiração por você. Obrigada por garantir a eles amor, respeito, carinho, comidinha gostosa e saudável e atenção até os últimos minutos da vida deles…

E que Deus conforte o coração de quem fica!

Tio Toninho, Patti, Vó, Lu, Vô - janeiro 2007

Tio Toninho, Patti, vó, Lu e vô - janeiro de 2007

Vovô Noel - Natal de 2006

Tios, primos e vô Ricardo - Natal 2006

E os anjos do céu? Ah, esses agora tocam sanfona (e não trombetas!) dia e noite…

Vô Ricardo – 01 Abr 1918 – 25 Nov 2009


3 Comentários

O vovô

Ei Nic,

Chegamos de viagem e ao chegar recebemos a triste notícia que seu vovô Jeovany não está mais entre a gente… Você não chegou a conhecê-lo… e talvez nem a mamãe o tenha conhecido muito bem também. 

A nossa relação sempre foi muito difícil e instável, mas nas vezes que conseguimos nos comunicar encontrei nele uma pessoa amorosa, inteligente, talentosa e bem humorada, apesar de tão cheia de mágoas… Que Deus tenha um lugar especial pra ele e que ele finalmente encontre paz e tranquilidade no seu coração…

* * *

Meu querido pai, receba o amor dos que aqui ficam…

* * *

28 Nov 1944 – 22 Nov 2009


5 Comentários

O céu deve estar em festa…

… com muita música e muita sanfona

… pois a querida bizavozinha Zezé foi morar no céu hoje e com certeza está sendo recebida com muita alegria por muitos anjinhos…

Sua doçura vai fazer MUITA falta aqui na terra!

Que ela tenha muita paz onde estiver… e que Deus a guarde sempre…

. . .

E muita força e serenidade pros que ficam…

. . .

(29/Nov/1922 – 18/Jul/2009)

maozinhas_com a biza

vovó_rosa

"Ô minha filha, esse neném é pesadinho, hein... Mas não pesa como chumbo não, pesa como ouro!"

vovó_coracao


2 Comentários

As “anjas” de Kal

anjasNão sei como teria sido nossa vida aqui até agora se não tivéssemos encontrado estas duas “anjas”… As duas chamadas Cláudia.

A Clods (como uma delas era chamada aqui) já se mudou, mas antes me ajudou um tanto com milhões de dicas do que comprar pro bebê, onde comprar e mais barato! Me emprestou coisas, me indicou um médico, me ajudou com dúvidas de grávida de primeira viagem e foi quem encontrou informações completas que me ajudaram a confirmar o refluxo do Nicolas (os médicos daqui não tinham idéia do que ele tinha). Ufa! Que alívio finalmente poder saber porque o Nicolas chorava tanto! A partir do diagnóstico, o refluxo pode ser rapidamente tratado e com isso nossa vida melhorou 100%… Serei eternamente grata a ela.

A outra é a nossa amiga gaúcha, sempre disponível pra me ajudar nos meus apertos, mesmo tendo três filhos pra cuidar. Tem várias histórias hilárias pra contar, tem sempre uma palavra tranquilizadora “isso é normal, Lu, aconteceu com meus filhos também, mas passa, viu?”, vários conselhos valiosíssimos de como fazer isso ou aquilo (ela é expert em curar gripe de bebê e fazer deliciosas papinhas), me empresta todas as roupinhas do filho mais novo e nunca se esquece de me lembrar de manter o Nicolas bem quentinho pra não gripar! 🙂 Né, Cláudia?

Com a ajuda delas, nossa adaptação a tanta coisa nova aqui tem sido muito mais rápida e tranquila!

Agradecemos a vocês de coração!