O lado cômico da maternidade


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Relato de parto da Lily (parte 1 de 2)

Meu grande sonho era ter um parto de ursa.

Por acaso você sabia que as ursas parem seus ursinhos ENQUANTO hibernam? Surreal, não? Ou seja, dona ursa engravida no verão, cava sua toca no outono, vai dormir quando o frio aperta, entra em trabalho de parto e nem tchum, pare os toquim de urso enquanto puxa o ronco, amamenta em livre demanda sem nem notar e quando ela acorda as peludices catarrentas já estão lá praticamente criadas: dormindo sem ninar, andando sem cair, com todos os dentes na boca e se bobear já estão até desfraldadas (ô inveja!).

Claro que nem tudo são flores, já que pra cria ter chance de sobreviver dona ursa tem que engordar pelo menos 200 kg. Sim, duzentinho. O interessante é que até o final da hibernação a danada consegue perder tudinho, acredita? Também pudera, experimenta ficar 6 meses numa caverna sem comer, parindo, amamentando pelo menos um par de ursinhos famintos com um leite 33% gordura (o humano tem 3%) e ainda tendo que manter uma camada adiposa suficiente pra manter a galerinha toda aquecida durante um inverno invernoso. Mole não. Principalmente se as bolinhas de pelo nascem com 500 g, mas pesam entre 10-20kg no final do inverno. Ui!

(Por isso nao é de se admirar que mal chega a primavera a ursarada saia que nem doida da hibernação cruzando quintais alheios em plena luz do dia em busca de alimento, né? Pensa bem. Mole não mesmo!)

Então. Mas acontece, que bem ao contrário das ursas, a experiência que eu tive parindo meu primeiro filho não chegou nem perto dessa naturalidade toda de “vou lá dar uma dormidinha e quando eu acordar te apresento meu filho”. Podia, né? Mas tudo o que eu conseguia pensar quando engravidei pela segunda vez, era em como diabos aquela criaturinha iria sair de dentro de mim. Mas tive meus motivos. Assunta aí o resumão do parto do Nic pra você entender.

Na gravidez dele, que durou 41 semanas e 1 dia, tudo o que eu mais tinha era tempo. Tempo pra pesquisar, ler, fazer ioga, kegels, participar de grupo de discussão, grupo de grávidas, fazer plano de parto, me envolver, me preparar – afinal, eu queria um parto o mais natural possível. Nessa época a gente morava na Austrália. Mas como é impossível prever e se preparar pra tudo nessa vida, nunca imaginei que eu viria a sentir tanta dor, por tanto tempo, pra tão pouca dilatação. Frustrei e surtei. Mas faz as contas aí, amiga. Foram 23 horas de pródomos com contrações doloridas a cada 10-4 minutos que me dilataram 2 cm, mais 10 horas com contrações mutantes a cada 5 minutos que não me renderam NENHUMA dilatação e mais 13 horas com contrações mutantaças a cada 5-3 minutos. Tudo isso, tendo ficado dois dias e duas noites sem dormir e sendo acompanhada por uma equipe com a qual eu não tinha sintonia. Pra piorar, Nic estava mal posicionado e por mais forças que eu fizesse ou diferentes posições que tentasse nas 3 horas de expulsivo, ele não descia. Terminei com o combo analsegia-epsiotomia-extração-a-vácuo. Nic nasceu com 4,15kg e uma senhora duma cabeça.

Ou seja, quando engravidei da Lily eu estava TODA trabalhada no trauma. Medo, muito medo de tudo aquilo se repetir. E sabe o que que o medo faz, né? Ele gera tensão, que gera dor, que gera? Mais medo! Dai começa tudo de novo. É o famoso ciclo medo-tensão-dor.

Por isso, quem me dera ser ursa quando me vi grávida de novo, mesmo com a perspectiva de ter que engordar 200 kg, viu… Mas eu nao era ursa, a Lily tinha que sair de mim de alguma forma e tudo o que eu sabia é que EU não queria que fosse pela barriga. Então só tinha uma saída: tentar me livrar daquele estorvo psicológico.

O plano de ataque

Uma das formas que eu encontrei pra combater meu medo, foi falar dele, MAS nunca no blog. Não sei se alguém reparou, mas nunca cheguei a escrever aqui sobre minhas expectativas do parto quando estava grávida da Lily. Simplesmente porque eu não estava afim de expor meu medo assim.

Mas acabei falando pra algumas pessoas. Conversei muito com meu marido, amigas daqui do Canadá, minha amiga Si, além de algumas fofas da blogosfera. Uma delas e que me ajudou muito (mesmo sem saber) foi a Cíntia, que também teve um parto difícil e sabia do que eu estava falando (né fiona?). Além da Dani e da Fabi, com as quais troquei vários emails e elas sempre me motivando: vai dar tudo certo, Lu, confia! :: Muito obrigada a todas vocês!

* * *

Mas o mais importante que fiz foi analisar o que tinha saido errado no primeiro parto pra tentar fazer diferente no segundo. Um dos grandes problemas no primeiro, foi não ter podido escolher a equipe que estaria comigo. Imagina você, que se o parto é um dos momentos mais íntimos e intensos que uma mulher pode ter na vida, se o ambiente não tem o mínimo de respeito e good vibes, como ela pode se sentir acolhida, confiante e à vontade pra se entregar, se transformar, virar bicho se quiser?

Pois bem, essa foi a primeira coisa que eu decidi que tinha que ser diferente. Felizmente, consegui uma midwife com a qual estabeleci um vínculo forte e de confiança desde o início da minha gravidez, uma doula que mora a um quarteirão da minha casa e tratei de conhecer melhor o meu corpo. Pra isso, tive a sorte de ser encaminhada a uma fisioterapeuta especializada em fisiologia feminina, que além de muito conhecimento, tinha também muita empatia e perspicácia.

Foi por causa dela, que hoje conheço meu corpo melhor que em qualquer época da minha vida. Ela reparou que eu tenho a pélvis um pouco rotacionada pra direita e pra baixo (devido a uma perna minha ser um pouquinho menor que a outra – normal, viu gentz?), e que por causa disso alguns músculos da pélvis eram mais tencionados (e doloridos) que outros. Esse foi o pulo do gato pra entender porque Nic tinha ficado “agarrado” na hora do expulsivo. A partir disso, ela identificou todos os músculos que poderiam me atrapalhar ou ajudar na hora P, me ensinou massagens locais, a melhor postura pra me sentar e ficar de pé, diferentes tipos de Kegel e exercícios de respiração. Depois orientou toda a equipe que me acompanharia, incluindo meu marido, que independente da posição que eu terminasse no parto, eu deveria tentar rotacionar minha pélvis um pouco pra esquerda pra balancear e ajudar a saída da Lily.

Tanta informação me ajudou a resgatar de forma incrível a minha confiança em um parto redentor, mas não a ponto de tentar um parto domiciliar. Desta vez, meu maior plano seria não ter plano, mas agir de acordo com meu instinto. Senti que no parto do Nic eu tinha me cobrado demais e que se tivesse sido mais flexivel durante o processo, eu talvez tivesse hoje uma memória mais positiva daquela experiência toda (who knows?). Por isso, disse à minha midwife que se em algum momento eu achasse necessário, gostaria de ter a opção da analsegia.

Hora nenhuma ela se opôs, conversamos sobre os riscos e ela me disse que essa era uma decisão muito pessoal minha. Acrescentou que uma boa forma de eu avaliar se precisava ou não da analsegia, era tentar mensurar minha dor durante o trabalho de parto. Se o que eu sentisse fosse forte, porém suportável, que eu deveria tentar continuar sem a anestesia, mas se eu estivesse realmente SOFRENDO e a dor estivesse me impedindo de aproveitar a magia do momento, apesar de todas as outras técnicas pra ameniza-lá, então podia ser o caso pra analsegia. Assim, ela sugeriu que eu escolhesse uma palavra “secreta”, uma que eu não costumo dizer com freqüência e que seria de conhecimento de todos que me acompanhassem no TP. De cara tive que descartar as palavras “bizarro”, “sorvete” e “aijesuis”. Acabei escolhendo “Madagascar” por causa de um filme ótimo do Woody Allen onde ele entra num transe hipnótico toda vez que escuta isso. Vai que, né? Mas enfim, se em algum momento eu gritasse “Madagaaaaaascar”, minha midwife teria certeza que eu tinha chegado no meu limite e chamaria o anestesista sem tentar me convencer do contrário.

Com isso, todo o resquício de medo que porventura ainda existia dentro de mim se foi e a partir desse momento passei a me sentir mais confiante que tubarão em festa de sardinha.

Na verdade, eu me sentia uma ursa.

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Pra continuar lendo: AQUI.


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Carta à Mãe Natureza – Proposta de Reforma (reblogado)

Este post é candidato ao concurso “O melhor post do mundo da Limetree” 

Querida Mãe Natureza,

Desculpe a petulância em te escrever, eu sei o quanto a senhora é ocupada, mas deve constar aí no meu cadastro que eu estou grávida, né? E mulher grávida a senhora sabe como é, fala o que vem na cabeça e muitas vezes tem umas ideias que não teria em outras circunstâncias, não é mesmo? Coisas dos hormônios.

É que tem uma questão que anda me incomodando bastante, sabe?

Já reparou que quando um casal decide engravidar não existe opção senão a MULHER encarar o processo e abrir mão de um monte de coisas? Olha, dona Mãe Natureza, não estou reclamando do privilégio de se gerar um ser, longe disso. Eu mesma adoro ficar grávida, mas cá pra nós, encarar enjoos, aumento de peso, estrias, discriminação no trabalho, dores por todo o lado, incontinência urinária, hemorróidas, coceira na barriga, limitações de movimentos, mudanças de humor repentinas, andar de pata, diabetes gestacional, entre tantas outras coisas mais, não é lá muito agradável, é? Claro, cada sintoma tem um porquê de existir, afinal estamos gerando uma pessoa com pele, ossos, órgãos e cabelo, eu sei!

Na verdade nem é ter esses sintomas o que mais me incomoda e sim o fato da gente passar por tudo isso enquanto O PAI da criança continua lá INTACTO e levando sua vida normalmente, sabe? Acredita que até  já ouvi falar de homens  que duvidam que a oscilação de humor e crises de choro e raiva que as grávidas têm durante toda a gravidez de vez em quando, não têm nada a ver com a explosão de hormônios dentro delas? É muito chato isso. Meu marido mesmo acha que meus atuais e frequentes lapsos de memória não passam de desculpa, veja só!

Por isso, eu gostaria muito de propor uma pequena reforma, dona Mãe Natureza, por favor não me leve a mal. Olha, não precisa ir lá na origem da fisiologia masculina e sair mudando uma porção de coisas pra gente poder se alternar com eles não. Mas que tal fazer assim: a gente gera e os homens sentem os sintomas?

Tava pensando mais ou menos o seguinte ó, veja se é possível mexer os pauzinhos aí:

Que tal AS MULHERES poderem curtir sossegadas os três primeiros meses e se focarem nos exames, em tomar o ácido fólico de cada dia e lerem tudo sobre o desenvolvimento daquele serzinho que recém formou os dedinhos, enquanto os HOMENS sentem todos os enjoos, vomitam até as tripas só com o cheiro da comida e têm tonteiras e muito sono?

Por que cá pra nós, Mãe Natureza, é meio contraproducente esse negócio de vomitar enquanto temos alguém lá dentro que depende do que comemos, né não? Mas se quem vomitar for o PAI, então problema resolvido, não acha?

Outra coisa… e esse negócio da gente ter esses desejos abruptos e incontroláveis de comer tantas coisas impróprias como pedaços gigantes de torta de nozes ou brigadeiro com colher? Não, o pior não é comer, imagina Mãe Natureza, mas sim, os níveis de glicose e os tantos quilos à mais depois, né? Mas como eu sei que tudo na casa da senhora tem um equilíbrio, que se a gente come em excesso esse excesso tem que ir pra algum lugar, então que vá pra ELES. Assim, a gente continua cuidando pra que nosso bebê não nasça com cara de torta de prestígio ou banana caramelizada, enquanto as calorias à mais migram felizes pro papai da criança. Não te parece muito mais justo? Sem falar que depois, quando a gente estiver amamentando, os quilos à mais vão embora de qualquer forma, não é isso que todos falam? ;)

Assim, acho que ficaria tudo muito mais harmônico, Mãe Natureza. As relações entre homens e mulheres ficariam mais estreitas e cheias de compreensão. Afinal, dá pra imaginar conexão mais forte que essa: minha barriga crescendo, mas meu marido perdendo o equilíbrio, tropeçando e andando com a mão apoiada na lombar inferior ? Minha pele se esticando todinha, mas ele saindo correndo feito um louco atrás do melhor creme pra passar na barriga DELE pra ELE não ter estrias? Eu conseguindo dormir a noite toda pra me sentir revigorada dia após dia (super importante pra saúde do bebê!), enquanto ELE se levanta a noite toda pra fazer xixi ou acorda com um chute nas costelas? Eu seguindo com todas as minhas atividades normais até o final da gravidez enquanto ELE sente as dores nas costas, os pés inchados e todo o desconforto típico associado à esta etapa? Eu dando à luz ao bebê e amamentando em livre demanda, enquanto ELE sente todas as dores do parto e  rachaduras no mamilo?

Tudo isso não contribuiria pra torná-los ainda mais engajados na maternidade e não lhes daria a oportunidade de finalmente poderem participar ativamente e entenderem TODO o processo, dona Mãe Natureza? Pensa bem.

Ah, mais uma coisa, Mami Natureba (desculpa a intimidade, mas é que depois de ter falado tudo isso, me senti tão próxima da senhora), tem algumas coisinhas que a senhora não precisa se preocupar muito em mudar porque dá muito bem pra viver com elas, viu? Tipo, a maravilhosa sensação de borboletas na barriga, os cabelos que de repente adquirem um brilho espetacular, a pele que mais sedosa e lisa impossível, e o mágico retardamento do crescimento dos pelos da minha perna que me permitem depilar somente a cada 3 meses. Pode deixar essas coisas desse jeitinho, tá?

Ah, mas se quiser passar essas unhas quebradiças horrorosas pra ele, também agradeço!

E muitos beijos pra senhora!

Lu

PS: Mãe Natureza, fiquei aqui pensando, agora imagina o que essa reforma não faria pra aquele homem safado que engravida duas mulheres ao mesmo tempo? Hein? ;)

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Texto originalmente postado em Setembro de 2011. Pra votarem nessa grande Proposta de Reforma em favor das mulheres gravídicas corre nesse link a partir do dia 15 de Junho! Obrigada!


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Enquanto a Lily não vem…

… eu passeio na pracinha, falo de nossas viagens e ainda conto sobre alguém dormindo no nosso sofá. (Ó, adianto que não é o marido, viu? :D)

… faço bichinhos pro mobile dela, com a ajuda da vovó

…. e ainda tento fazer pose pra mostrar a barriga de 40 semanas.

Tudo enquanto a Lily não vem. Porque depois que ela vier, minha amiga, já vou ficar feliz se conseguir tempo pra dormir!

Beijoca no seu nariz de pipoca!


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A arte de saber baixar as expectativas

Num dia frio como tantos outros, ela se levantou (após outra noite de insônia), preparou o café da manhã (sem cafeína) e se sentou com seu filho de 3 anos. Falaram sobre o Natal, a visita do Papai Noel, a chegada da vovó dali uma semana e sobre como caminhões de bombeiro são legais. Vez ou outra, ela brincava discretamente com os chutinhos que vinham de dentro de sua barriga.

Então, pensou no marido que viajava (e que finalmente chegaria naquele dia), na loucura que seria o próximo ano com duas crianças, nos seus planos futuros e por fim, porque diabos chovia tanto lá fora. Tomou um pouco de chá e não conseguiu evitar uma careta – outra vez tinha esquecido o saquinho lá dentro e o gosto ficou amargo demais. O filho riu, ela pegou o açúcar.

De repente, como num impulso, ela se levantou, pegou lápis e papel e resolveu começar a enumerar seus projetos pro próximo ano.

*

– Pintar o cabelo

– Comer menos açúcar

– Usar o ipad novo pra escrever mais no blog

– Escrever e ilustrar a história infantil que tem na sua cabeça há anos

– Terminar os dois livros que ela já está ilustrando

– Comprar uma bicicleta (e usá-la)

– Fazer yoga

– Desfraldar o primogênito

– Tirá-lo da cama do casal (sim, ele havia saído, mas voltou)

*

Afixou a lista na porta da geladeira com um ímã do Buzz Lightyear, olhou pro relógio e lembrou que já era quase hora de levar o filho pra natação. Enquanto subia pra trocar de roupa, lembrou do berço que estava por montar e da mala que o marido trouxe do Brasil lotada de roupinhas fofas de bebê, e sentiu um rompante pra começar a arrumar tudo naquele minuto. Pausa para comentário. Não, não era o nesting* começando, isso é coisa dela mesmo.  Termina pausa.

Mas pensando que tinha muito trabalho pra fazer naquele dia, resolveu não desvirtuar e sim, respirar fundo e lutar fortemente contra todas suas células arrumadeiras. Cada coisa no seu tempo: no outro dia cedo (sábado) seu marido poderia montar o berço, ela lavaria todas as roupinhas e sem pressa poderia organizar tudo em seu lugar (ou seja, na única gaveta disponível à Lily até o momento – a do berço). Ela então ficou feliz pela dádiva de conseguir pensar racionalmente e com parcimônia, mesmo em momentos de rompante (qualquer grávida sabe que isso não é fácil) e assim não acumular mais uma culpa materna por não levar o filho na natação.

* * *

No dia seguinte ela é a primeira a se levantar. Entusiasmada, vai tomar café. Volta pro quarto, marido dormindo. Então coloca as roupinhas pra lavar.  Volta, marido dormindo. Decide que é melhor tomar um banho. Sai, marido dormindo. Tropeça na cama, ele acorda.

– Oh, que bom que você acordou, amor! Bom dia!!!

Ele volta a dormir.

Uma hora depois, lutando contra a dádiva da tranquilidade que ameaçava ir pro espaço, ela o observa se levantando lentamente sem acreditar como pode uma criatura ter tão pouca pressa pra montar um berço. Algo tão legal de se fazer! Ele então escova os dentes devagar, toma banho sem pressa alguma, toma café com movimentos quase estacionários, pra finalmente… se sentar pra checar os emails.

– E o berço? – solta ela abruptamente.

– Que que tem? Você quer mesmo montar hoje? Mas falta tanto tempo ainda… tem mais de um mês pra gente fazer isso…

– Eu sei, mas é que eu já queria começar a organizar as roupinhas dela… tá tudo dentro da mala ainda… Sem falar que vai ser bom pro Nic, pois vai ficar tudo mais real com o berço ali… não acha?

– É…

E montou o berço.

* * *

Ela finalmente conseguiu passar a tarde arrumando tudo com carinho, namorando cada detalhe das roupinhas e tentando se decidir qual lençol colocar no berço – o de joaninhas ou o de ursinhos – quando de repente ela escuta:

– Mamãe, quero deitar aí.

– O que, Nic? Nesse berço? Mas é da sua irmãzinha, meu bem… lembra que você dorme com a mamãe e o pap… – E só então a ficha dela caiu. – Tá bom! Pode deitar aqui sim!

E desde então Nic não dorme mais com eles.

Não foi bem como ela esperava, mas naquele dia ela riscou feliz o primeiro ítem da sua lista. E depois saiu pra comprar um moisés pra bebê que vai nascer.

(Ela: desencanada é apelido. Sim, essas fotos são recentes. Sim, o buraquinho encima do umbigo era de um piercing. Sim, ela estava com sono quando tirou as fotos.)

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*Nesting é aquele instinto arrumador que acomete todas as grávidas quando a cria está por nascer.


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No Blog da Clauo!

Pessoas queridas, tudo bem quando eu não escrevo aqui mas escrevo em outro blog, né? Porque  foi o que aconteceu essa semana (de novo!). Desta vez fui convidada pela queridíssima Clau pra escrever um post de estreia da sessão “Participações Super Especiais”. Olha que chique!!!

Ela me pediu pra falar sobre o que me motiva a escrever um blog (ou dois!) e eu juro (juro!) que tentei escrever um post normal e sensato (qual a dificuldade nisso, né?), mas claro que meu plano descarrilhou e acabei falando mesmo foi das poderosas forças contrárias que insistem em me manter longe do blog.

Vai lá no Blog da Clauo, lê o post, mas não vale rir, hein? A situação é trágica, meu povo! Muito trágica.

Beijos e logo volto com um post por aqui! Promise!


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Gravidez Nic x gravidez Lily

Assim que me vi grávida de novo foi inevitável começar as comparações com a outra gravidez: desta vez quase não passei mal, não vejo nem sombra daquela línea nigra horrorosa e escuríssima que me apareceu na primeira vez e tenho sentido um frio inexplicável! Mas em compensação nem de longe meu cabelo e pele ficaram com aquela sedura maravilhosa da primeira gravidez, nem eu tenho tido muito tempo pra me preocupar com isso.

Outra diferença marcante era a impressionante acurácia com a qual eu conseguia rastrear meu tempo de grávida:

– 23 semanas e 3 dias! E completo 24 semanas na próxima terça!* – respondia eu sem titubear pra qualquer um que me perguntasse e ainda por cima com aquele entusiasmo que beirava à inocência, bem característico das grávidas de primeira viagem.

Já hoje:

– Quanto tempo? Ah, entre 6 e 7 meses… talvez mais… Bom, a bebê tá estimada pra nascer em fevereiro, então…

* * *

Mas sem dúvida a maior diferença de todas foi o TEMPO e disponibilidade que eu tinha pra inventar coisas e mergulhar totalmente naquela experiência gravídica: fiz album de scrapbook detalhado com fotos da barriga a cada semana, yoga todos os dias, li todos os livros disponíveis sobre parto, tomei muito banho de espuma demorado, fiz inúmeras caminhadas de mãos dadas com o Rafa, assisti minhas séries e filmes favoritos,  e claro, selecionei com cuidado cada roupinha pro Nic, lavei com sabão sem lauril sulfato de sódio, perfumei com essência de extratos naturais e organizei tudo em gavetas etiquetadas de acordo com o tamanho das roupas.

Já pra Lily, estou considerando que se eu conseguir (e SÓ) me preparar bem pro parto dela, já ficarei extremamente feliz. Porque de resto, não tenho mais tempo, não tenho quase fotos da barriga, não tenho tempo, não compramos quase nada pro enxoval dela, não tenho tempo, não temos gavetas nem um quarto só pra ela. E o pouco tempo que consigo angariar pra mim, passo fazendo kegels e trocando a fralda do Nic que não quer desfraldar de jeito NENHUM.

* * *

Outra coisa que me deixa no mínimo fascinada era minha nerdice na outra gravidez. Acredita você que eu registrava meu peso religiosamente a cada semana e ainda por cima acompanhava minha curva de ganho em um gráfico?

Tudo bem que esse negócio de peso pra mim sempre foi cercado de uma certa aura paranoienta, já que até os 25 anos eu fui uma pessoa extremamente complexada por ser magra. Tinha vergonha das minhas pernas (que eu cresci escutando que eram cambitos de seriema), do pescoço fino, da falta de atributos avantajados e até da barriga seca (oi?). Daí um dia eu entrei pra faculdade, comprei vários vestidinhos bonitos e finalmente me senti bem com meu corpo; mas quando engravidei do Nicolas não deixei de sentir uma ponta de felicidade com a perspectiva de sair da experiência com uns quilinhos à mais.

Acontece que pra minha grande decepção, ao invés desse tal de Seu Universo conspirar a favor da minha engorda, me mandou foi um enjoo do cão, que me fazia vomitar com qualquer cheiro ou comida. Até o tom de voz meloso de um amigo meu (a quem eu via todos os dias) me fazia enjoar. Resultado: EMAGRECI 4 kg no primeiro trimestre e cheguei ao peso mais baixo desde que eu tinha 12 anos de idade.

Grávida do Nicolas com 17 semanas (quem diria?)

* * *

Daí que quando finalmente saí da fase dos enjoos, passei a comer como uma desvairada. Já ouviu falar que grávida tem que comer por dois, né? Pois levei isso tão a sério que comia logo por dois adultos. E pra dar um gás na minha maratona do peso, li na bíblia das grávidas que o ideal é engordar numa taxa de meio quilo por semana até o nono mês e depois passar a engordar até 1kg semanalmente. Com essa meta escabrosa em mente e a necessidade de recuperar o peso perdido entrei num ritmo tão alucinado, que meu peso não aumentava, galopava. Cheguei ao nono mês com 16kg à mais e de Olivia Palito passei a Sapo Boi.

*

Depois disso, amiga, foi só ladeira abaixo, pois desse ponto em diante, eu já não conseguia mais conter a aceleração do ganho de peso e até o Nicolas nascer, com 41 semanas, eu engordei mais 4kg. Virei um balão.

Lu e Nic, 38 semanas, primavera quente no deserto australiano

Após essa experiência, que me custaram 2 anos pra voltar – ao hoje muito apreciado – peso original, tenho comido com muito mais moderação e graças ao meu anterior registro detalhado, toda vez que finalmente descubro com quantas semanas estou (e viva minha midwife e sua fita métrica**!), corro lá no gráfico e uso pra comparar com meu peso atual. Hoje estou com 28 semanas e pesando 3kg a menos. Deus sabe como vamos terminar essa jornada.

* * *

E sobre as fotos, na tentativa de preencher a falta de fotos nessa gravidez, fizemos um ensaio fotográfico de família daqueles bem espontâneos e em meio à natureza com a Belle Meneirz. A maioria das fotos ainda não vimos, mas pelo menos já deu pra comparar as barrigas na mesma época.

Esquerda: Lu e Nic, 27 semanas, inverno no deserto australiano. Direita: Lu e Lily, 26 semanas, outono no Canadá.

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* Além do calendário, eu usava o Gravidômetro, um programinha meio mequetrefe (que não leva em conta o ciclo menstrual), mas que muito me ajudou a acompanhar o tempo de gravidez do Nicolas. Caso você esteja grávida ou pensando em engravidar E tenha um computador com Windows, pode baixá-lo AQUI Ó.

** Pra descobrir a idade gestacional minha midwife usa o antigo método de apalpar a barriga e medir o útero com uma fita métrica. Na última vez deu 28 cm, que correspondem a 28 semanas.


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Flor de lis

Eu estudei um ano de Artes Plásticas há tempos atrás. Sabe aquele povo mal vestido alternativo e bem piradão hippie? Então, eu era uma cercada deles. E como adoravam uma performance! Me lembro que eu não conseguia dar um passo nos corredores da universidade sem assistir a uma apresentação artística dos outros estudantes. Era teatro, dança, música, mímica, desmaio súbito, de tudo. Tanta expressão artística, que às vezes ficava difícil distinguir o que era e o que não era performance. Um dia, chegou no cúmulo da mulher da lanchonete discutir feio com o marido que também trabalhava lá, e os estudantes se aglomerarem ao redor e aplaudirem com entusiasmo no final, achando que tudo não tinha passado de uma apresentação artística de estilo bem realista. A mulher saiu chorando e muita gente ainda achou que fosse de emoção.

* * *

Pois era justamente uma bela de uma performance (porém nada das artísticas) que eu estava determinada a fazer caso o pessoal da clínica de ultrassom não me contasse o sexo do bebê de novo. Acontece que depois do ultimo ultra, descobri que querer saber sexo de bebê não é justificativa suficiente pra requerer outro procedimento ultrassônico aqui no Canadá. Se eu quisesse muito fazer, teria que pagar particular – 50 doletas. E assim foi. Felizmente não foi necessária nenhuma performance de minha parte e quem performou muito bem foi esse bebê aqui dentro, que se exibiu chupando o dedinho, mexeu com preguiça e depois mostrou que é uma bela menininha! Sim, Nic ganhará uma irmãzinha!!!

* * *

E agora tô aqui recapitulando o tanto de gente que tinha CERTEZA que seria menina, incluindo meu marido (que anda super babão), muitas amigas e todo mundo que se pronunciou nesse post aqui dizendo que SIM, vinha uma Indiana Kaitlyn por aí! Ou seja, gastei 50 dolares a toa, né gente? Com mentes intuitivas desse nível quem precisa de métodos diagnósticos de alta frequência?

Ah! E outra ferramenta que comprovei ser totalmente obsoleta é a tal da tabela chinesa (oi?). Podem rir, mas eu caí nessa. Tudo culpa de uma amiga doida que eu tenho por essas bandas virtuais. Imagina que no início da minha gravidez ela me escreveu dizendo que estava em vias de começar a tentar o segundo também, MAS que estava esperando o momento certo de acordo com a tabela chinesa, pra que viesse uma menina. Eu não fazia torcida escancarada por um determinado sexo, mas no fundo achava que seria bem legal ter uma menininha também… Então corri na internet, achei duas versões da tal tabela e as duas foram taxativas: MENINO.

Daí relaxei. Com mais um hominho pela casa a gente pelo menos já sabia o que esperar e não precisaríamos comprar praticamente nada, né?

* * *

Mas e agora??? O que fazer com a informação que vem menina por aí? Boneca, laços, vestidos, babados??? Estão sentindo minha insegurança? É que o despreparo é grande… São três anos de treinamento intensivo aprendendo todas as diferenças entre um caminhão guincho e um caminhão caçamba, uma retroexcavadeira e um bulldozer, gente! Três anos pra saber que o bom de se construir uma pilha de blocos é poder derrubá-la no final e que brincadeira sem empurra-empurra ou sobe-pula-rola não tem graça.

Tô perdida! – mas ao menos tempo MUITO feliz!

* * *

Ah, e pra quem ficou curioso, o nome já está escolhido e não é Indiana Kaitlyn não, viu? É Kimberly Kayla! 🙂 Mentira, o nome é simples, curto, feminino e super delicado: Lily. A pronúncia mais forte é na primeira sílaba e significa flor de Lis (lírio) em inglês. Já estamos apaixonados pela nossa florzinha!

* * *

No mais, segue tudo bem por aqui. A barriga cresce e aparece, os sintomas são quase nulos e o que eu mais tenho sentido é uma incrível aversão ao som de trompete (que nervoso!), além de insônia, muita insônia nas madrugadas… Nic não quer nem saber da irmãzinha, entrou em estágio de negação. Disse que tudo o que eu tenho é uma barriga grande, mais nada. E por falar nesse meu menininho fofo, amanhã ele completa 3 anos. Estou cheia de coisas pra contar sobre ele, sobre a festinha que aconteceu ontem e sua entrada pra escolinha. Mas vai ter que ficar pra depois. Agora vou lá que tenho umas bonequinhas pra desenhar – é, já comecei a treinar! 🙂

E beijos pra quem tem um ultrassom embutido e acertou o sexo!


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Indiana Kaitlyn ou Atadolfo Ashton?

Estar grávida no Canadá chega a ser divertido.

Aqui é um daqueles lugares onde nenhuma mulher conta que está grávida antes de completar 3 meses. Pra ninguém mesmo – nem família, nem amigos, nem outros filhos. Às vezes chego a duvidar que até o marido saiba. 🙂

Uma vez, uma amiga me contou que aqui tem um programa de rádio pra onde as pessoas ligam pra desabafar sobre vários assuntos, mas o que mais aparece por lá é mulher com menos de 3 meses de gravidez ligando só pra gritar aos quatro ventos: “I’M PREGNANT!”. Libertador poder finalmente tirar da garganta que está grávida, né? Pois assim é que elas conseguem forças pra aguentar mais um tempo sem contar pra ninguém.

Eu fico rindo, mas eu mesma cheguei a pensar em não contar também, já que os três primeiros meses são sempre meio incertos. Até consegui segurar bastante, mas com menos de dois meses já tinha contado pra família e alguns amigos. E também contei pra minha vizinha, que é mãe da melhor amiguinha do Nic. Afinal, como é que dá pra esconder essas coisas das pessoas que você convive, quando se corre o constante risco do enjoo atacar de forma incontrolável e você ter que cortar a conversa no meio e sair correndo pra uma visita ao banheiro? Vai saber, achei melhor contar.

– Que notícia boa, Luciana! E como você está se sentindo?

– Bem, um enjoo aqui, outro lá, mas nada exagerado. Bem diferente da primeira gestação que eu só consegui comer melancia e alface com limão por 3 meses. Perdi 4 kg.

– Puxa, não é mesmo fácil! Mas pelo menos agora você já está no segundo trimestre, que em geral é mais tranquilo, né?

– Segundo trimestre? Não, só estou no segundo mês!

– Oh! – abriu um olho desse tamanho e desconversou.

* * *

Outra coisa interessante é que aqui quase todas as mães com quem já conversei preferem não saber o sexo do bebê antes do nascimento. E nem ficam um tiquinho curiosas. O argumento é que fica muito mais emocionante desvendar o mistério só no último momento.

Tá, eu até entendo a espera, a surpresa, e emoção, mas o que eu acho difícil de entender é quando levam a questão ao extremo. Uma vez conheci um casal que além de fazer total questão de não saber o sexo, também decidiram não escolher nome nenhum até verem a carinha do bebê. Eles queriam aquele nome especial que combinasse com aquele rostinho único, ao invés de um nome bonito aleatório qualquer. Justo. Acontece, que após duas semanas que a menininha nasceu, eles ainda não tinham conseguido extrair o melhor nome daquela fisionomia ainda meio sem forma. Por duas semanas ela foi chamada de Baby Girl, Bundle of Joy ou Cutie.

Depois finalmente recebeu o nome de Indiana Kaitlyn*.

Me pergunto se não teria sido o caso de pensar só alguns dias mais, né?

* * *

Eu particularmente acho toda essa espera pra se descobrir o sexo só no parto muito bonita, mas é coisa pra ser elevado, não pra mim. Acontece que estou com quase 22 semanas e ainda não sei se hospedo uma menina ou um menino, mas quase não me controlo de curiosidade. Meu plano era fazer somente dois ultrassons durante toda a gravidez (um pra estimar a data prevista pro parto e o morfológico, que é quando se pode ver se o bebê tem todos os órgãos e dá pra saber o sexo), mas pelo visto, se eu quiser mesmo saber o sexo, terei que fazer um terceiro.

O que aconteceu, é que fomos pra uma outra cidade fazer o tal do ultrassom morfológico. Aqui onde moramos é cidade pequena e bem conhecida pelo sigilo absoluto que o hospital faz em relação ao sexo do bebê. Não contam mesmo, nem se pagar por fora.

Então pegamos o carro, dirigimos 80km e fomos pra clínica felizes da vida pensando que por fim descobriríamos se o Nic teria um irmãozinho ou uma irmãzinha. Só o que a gente não sabia, é que a tal clínica tinha a política de só contar a partir de 20 semanas de gravidez. Eu estava com 19. Dezenove, gente, e não quiseram contar.

Depois fui descobrir que existem várias razões pra isso.

:: Uma delas é que existem muitos processos contra a clínica caso eles digam o sexo errado. Já ouviu aquelas histórias de gente que acha que vai ter menina, compram tudo rosinha e com babadinhos e daí nasce um meninão? Pois é. Processo na certa.

:: Outro motivo são as religiões e culturas bizarras por aí que não admitem bebês de determinado sexo. E como aqui tem gente do mundo todo, não contam na tentativa de evitar abortos por causa de sexo indesejado… Triste, mas verdade.

* * *

Assim, que ainda estamos sem saber o sexo. E se eu não conseguir fazer um outro ultrassom, talvez a saída seja mergulhar no meu íntimo e vasculhar o quase infalível instinto materno**. “Ownnnnnn… Ownnnnn… Menina”, penso eu. Então me lembro que da última vez que consultei meus instintos, pensei a mesma coisa, que fosse ser menina. Ou seja, tem tudo pro Nic ter um irmãozinho, né?

E se esse for o caso, estamos encalacrados, pois ainda não temos um nome de menino. Mas tudo bem, pelo que tenho visto, só temos que esperar ele nascer, e observar bem sua carinha. Se nenhum nome nos ocorrer, esperamos mais algumas semaninhas e no final decidimos que Atadolfo Ashton é o nome que melhor define aquela criaturinha.

É, acho que estamos no caminho certo. 🙂

* * *

E você aí, que palpite tem? Vem por aí uma Indiana Kaitlyn ou um Atadolfo Ashton? Um beijo pra quem acertar, hein?*

______________

*Aqui é desses países onde TODO mundo tem dois nomes, mas que raramente combinam entre si
**Instinto que nada, fui altamente influenciada pelo ultrassom, de onde não tirei os olhos um segundo e toda vez que a imagem mostrava as perninhas do bebê, tenho pra mim que não vi nenhum “pipi” por lá.


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Carta à Mãe Natureza – proposta de reforma

Querida Mãe Natureza,

Tudo bem?

Desculpe a petulância em te escrever, eu sei que a senhora é muito ocupada, mas a senhora deve ter meu cadastro aí e deve poder ver que estou grávida, né? 4 meses e meio já, pois é, o tempo voa… E mulher grávida é assim, fala o que vem na cabeça e muitas vezes tem umas ideias que não teria em outras circunstâncias, não é mesmo? Coisas dos hormônios.

É que tem uma questão que anda me incomodando bastante, sabe?

Já reparou que quando um casal decide engravidar não existe opção senão a MULHER encarar o processo e abrir mão de um monte de coisas? Olha, dona Mãe Natureza, não estou reclamando do privilégio de se gerar um ser, longe disso. Eu mesma adoro ficar grávida, mas cá pra nós, encarar enjoos, aumento de peso, estrias, discriminação no trabalho, dores por todo o lado, incontinencia urinária, hemorróidas, coceira na barriga, limitações de movimentos, mudanças de humor repentinas, andar de pata, diabetes gestacional, entre muitas outras coisas, não é lá muito agradável, é? Claro, cada sintoma tem um porquê de existir, afinal estamos gerando uma pessoa com pele, ossos, órgãos e cabelo, eu sei!

Na verdade nem é ter esses sintomas o que mais me incomoda e sim o fato da gente passar por tudo isso enquanto O PAI da criança continua lá INTACTO e levando sua vida normalmente, sabe? Acredita que até  já ouvi falar de homens  que duvidam que a oscilação de humor e crises de choro e raiva que as grávidas têm durante toda a gravidez de vez em quando, não têm nada a ver com a explosão de hormônios dentro delas? É muito chato isso. Meu marido mesmo acha que meus atuais e frequentes lapsos de memória não passam de desculpa, veja só!

Por isso, eu gostaria muito de propor uma pequena reforma, dona Mãe Natureza, por favor não me leve a mal. Olha, não precisa ir lá na origem da fisiologia masculina e sair mudando uma porção de coisas pra gente poder se alternar com eles não. Mas que tal fazer assim: a gente gera e os homens sentem os sintomas?

Tava pensando mais ou menos o seguinte ó, veja se é possível mexer os pauzinhos aí:

Que tal AS MULHERES poderem curtir sossegadas os três primeiros meses e se focarem nos exames, em tomar o ácido fólico de cada dia e lerem tudo sobre o desenvolvimento daquele serzinho que recém formou os dedinhos, enquanto os HOMENS sentem todos os enjoos, vomitam até as tripas só com o cheiro da comida e têm tonteiras e muito sono?

Por que cá pra nós, Mãe Natureza, é meio contraproducente esse negocio de vomitar enquanto temos alguém lá dentro que depende do que comemos, né não? Mas se quem vomitar for o PAI, então problema resolvido, não acha?

Outra coisa… e esse negócio da gente ter esses desejos abruptos e incontroláveis de comer tantas coisas impróprias como pedaços gigantes de torta de nozes ou brigadeiro com colher? Não, o pior não é comer, imagina Mãe Natureza, mas sim, os níveis de glicose e os tantos quilos à mais depois, né? Mas como eu sei que tudo na casa da senhora tem um equilíbrio, que se a gente come em excesso esse excesso tem que ir pra algum lugar, então que vá pra ELES. Assim, a gente continua cuidando pra que nosso bebê não nasça com cara de torta de prestígio ou banana caramelizada, enquanto as calorias à mais migram felizes pro papai da criança. Não te parece muito mais justo? Sem falar que depois, quando a gente estiver amamentando, os quilos à mais vão embora de qualquer forma, não é isso que todos falam? 😉

Assim, acho que ficaria tudo muito mais harmônico, Mãe Natureza. As relações entre homens e mulheres ficariam mais estreitas e cheias de compreensão. Afinal, dá pra imaginar conexão mais forte que essa: minha barriga crescendo, mas meu marido perdendo o equilíbrio, tropeçando e andando com a mão apoiada na lombar inferior ? Minha pele se esticando todinha, mas ele saindo correndo feito um louco atrás do melhor creme pra passar na barriga DELE pra ELE não ter estrias? Eu conseguindo dormir a noite toda, pra me sentir revigorada dia após dia (super importante pra saúde do bebê!), enquanto ele se levanta a noite toda pra fazer xixi ou acorda com um chute nas costelas? Eu seguindo com todas as minhas atividades normais até o final da gravidez enquanto ele sente as dores nas costas, os pés inchados e todo o desconforto típico associado à esta etapa? Eu dando à luz ao bebê, o ajeitando carinhosamente nos meus seios pra mamar pela primeira vez e me preparando pra amamentá-lo em livre demanda por pelo menos 6 meses mais, enquanto ele sente todas as dores do parto e rachaduras no mamilo?

Tudo isso não contribuiria pra torná-los ainda mais engajados na maternidade e não lhes daria a oportunidade de finalmente poderem participar ativamente e entenderem TODO o processo, dona Mãe Natureza? Pensa bem.

Ah, mais uma coisa, Mami Natureba (desculpa a intimidade, mas é que depois de ter falado tudo isso, me senti tão próxima da senhora). Tem algumas coisinhas que a senhora não precisa se preocupar muito em mudar porque dá muito bem pra viver com elas, viu? Tipo, a maravilhosa sensação de borboletas na barriga, os cabelos que de repente adquirem um brilho espetacular, a pele que mais sedosa e lisa impossível, e o mágico retardamento do crescimento dos pelos da minha perna que me permitem depilar somente a cada 3 meses. Pode deixar tudo desse jeitinho, tá?

Ah, mas se quiser passar essas unhas quebradiças pra ele, também agradeço!

Beijos!

Lu

PS: Mãe Natureza, fiquei aqui pensando, agora imagina o que essa reforma não faria pra aquele homem safado que engravida duas mulheres ao mesmo tempo? Hein? 😉


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Manias e autonomia

Criança tem cada uma.

Já tem um tempo que Nic deu de querer fazer tudo no lugar da gente. Apagar e acender luzes, dar descargas no xixi dele e no NOSSO, fechar e abrir portas, ligar e desligar qualquer máquina, molhar as plantas (e tudo mais ao redor) com o regador, entre muitas outras coisas.

E coitado daquele que se esquece, liga o automático e faz o que na cabeça do Nic, ELE deveria fazer. É crise de choro na certa.  Bom, exceto hoje, que ele não chorou mas ficou fulo. Quando descemos pra tomar café na cozinha e ele se deu conta de que quem tinha descido com o copo que ele toma leite tinha sido EU e não ELE, não acreditou. Olhou pra mim com laser nos olhos, pegou o copo bufando de raiva, subiu as escadas pisando duro, colocou o copo de volta no quarto, pegou o copo, desceu e me entregou, bem mais feliz dizendo “fui EU que trouxe”.

* * *

Outra mania que ele tem é de NUNCA dormir de meias. Nem mesmo no inverno. Já faz até parte do nosso ritual pra dormir: escovar dentes, fazer xixi, subir na cama, tirar meia, ler liv… Oops!

*Nic chorando*

– Ih, Nic, verdade, esqueci e tirei sua meia…

E depois de 5 minutos ainda estamos ali, ele soluçando, me ajudando a colocar as meias de novo pra desta vez ELE tirar.

Mas depois dorme. E se for soneca da tarde então, dorme mais facilmente ainda. Quase não acredito quando ouço aquela vozinha me pedindo pra dormir depois do almoço. Única coisa que não dá pra prever é o humor com o qual ele acorda. Há alguns meses tem sido muito comum ele dormir muito (às vezes umas 3 horas seguidas) e acordar em prantos. Chorando muito mesmo. Daí, tem dias que só quer mamãe, outros, só papai e nos mais difíceis, NINGUÉM. Só quer mesmo é chorar e se tentamos acalmá-lo, mais bravo ele fica. Então saio de perto e espero ele se resolver sozinho, coisa que pode levar 10 ou até 20 minutos.

Daí, do mesmo jeito brusco que ele começa a chorar, para. E vem todo sorridente e faceiro, enxugando as lágrimas como se tivessem sido de alegria. Abraça, beija, pede colo e fala qualquer coisa trivial tipo “vi que o cachorro do vizinho tá deitado no sol” ou “quero andar de bicicleta na rua”. Às vezes ainda pergunto por que ele estava chorando, mas ele nunca responde.

E tudo segue bem.

Agora tem dia, que não tem choro nenhum e ele já acorda direto na parte de dizer algo fofo, como ontem, que ele acordou e disse lá da cama “Nicolas vai ajudar a trocar fralda do neném quando ele nascer”. Assim, do nada. Acordou e falou isso. Daí desceu da cama e veio correndo feliz, trazendo nas mãos as meias pra calçar de volta.

E desta vez ainda pediu minha ajuda.

🙂