O lado cômico da maternidade


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a vida, o hacker e o gabarito

Eu não gosto de reclamar da vida, provavelmente por que eu sempre tenha tido tudo que precisei.

Uma vez, eu estava na faculdade, e um grupo de amigos discutia quem tinha tido a infância mais pobre. Um falava que não teve videogame, outro contou que nunca teve um quarto só pra ele e o outro lamentou que carne na sua casa era só um dia sim outro não.

Eu não queria falar, mas eles insistiram.

Então contei sobre a Monique e a Elisabeth (saudades! love u dolls!), as duas quase únicas bonecas que tive, com 5 e 10cm de altura respectivamente, de plástico, sem mexer nem braço nem perna e com o cabelo de pano colado na cabeça que eu mesma fiz. Falei da nossa única televisão, preto e branca, de válvula e sem controle remoto, que nos acompanhou até eu fazer 19 anos*. Contei que nunca tive uma bicicleta. Falei do barracão de um cômodo só, com chão de concreto, dividido ao meio com um guarda-roupa, onde moramos por 3 anos quando meus pais se separaram – eu era a mais velha de três e tinha 7 anos. Contei  que várias vezes não tínhamos nada pra comer e que uma vez eu demorei tanto pra terminar um iogurte, o qual eu deliciava um pouquinho por dia, que ele acabou estragando na geladeira. E pra não ficar muito longo nem chato, terminei falando da nossa velha Brasília azul que foi levada pela enchente quando vivíamos num barracãozinho à beira do Rio Arrudas em Belo Horizonte.

Claro que fui declarada vitoriosa na mesma hora. 🙂

Mas o que eu não contei é que quando penso na minha vida, a última coisa que me lembro são dos problemas que tivemos. A gente não tinha bens materiais, mas tínhamos uma mãe maravilhosa, irmãos que topavam qualquer parada e muita imaginação pra criar a realidade que desejássemos. Não faço ideia do que é crescer tendo lego, barbie, atari ou qualquer um dos brinquedos populares nos anos 80, mas eu sei fazer pipa, pular elástico, costurar roupa de boneca, inventar histórias de alienígenas e todas as regras de rouba-bandeira. Pra que mais? 🙂 E que apesar de sempre ter estudado em escolas públicas, consegui com muito esforço, conquistar uma carreira bacana e até fora do Brasil** (mesmo que tenha sido abandonada em prol dos filhos e sonhos ainda maiores).

Com tudo isso, não estou querendo dizer que infância boa é infância pobre, mas que a infância que EU tive, fez de mim a pessoa que sou hoje: sem frescura, com iniciativa pra correr atrás do que eu quero e com criatividade o suficiente pra estar constantemente pagando mico em blog transformar qualquer dia (ou noite) que eu tenha num motivo pra rir.

Por isso, me espanto demais (muito mesmo!) que eu tenha chegado a chorar quando descobri, na semana passada, que meu website (o quarto filho, lembra?), havia sido hackeado. Como que um negócio pequeno e de família é hackeado, gente? Pois sim. Aconteceu quando um atoa da vida foi lá, entrou sem permissão e injetou uma porção de vírus malignos e sanguinolentos nele, tudo por pura diversão. Bom, a não ser que tenha sido vingança do meliante do Havaí, aí até vai, né!

Pelo menos, no momento que eu estava em estado de choque paralisante catatônico, encontrei um ombro amigo pra chorar as pitanga e acabei ficando mais tranquila.

Agora, se meu segundo e-filho vai sobrevir sem sequelas, eu ainda não sei. Espero que sim! No momento ele está na UTI cibernética, sendo tratado e medicado com antídotos pra evitar ataques futuros. Torçam pela gente? (UPDATE: ELE SAIU! TÁ VIVO! :))

A PROVA

E apesar de tudo isso, não me esqueci dos meus alunos queridos! Gente, que orgulho, viu? Não teve nem uma nota abaixo da média (estipulada pelo Instituto Nicolilando), acreditam? Claro que teve aluno me chamando de carrasca (suspensão na certa!), outros tentando me subornar e alguns até dizendo que só sendo avó da figura biográfica em questão pra conseguir responder tudo. Mas não deixei nada disso me abater e segui em frente, corrigindo prova atrás de prova e sempre com o pensamento no meu dever  enquanto educadora. E pra quem se recusou a fazer o teste, logo libero as datas pras 30 horas de aula de reforço e pra prova de recuperação, viu? Achou que fosse escapar? 😉

Sobre as questões, algumas foram realmente enganosas, em especial a de número 6 (acreditem, Lily JAMAIS dormiu uma noite inteirinha) e a última, que ninguém acertou, mas não é culpa de vocês – pelo que me lembre eu não cheguei a contar que o prodigio gastronômico que comia de tudo degringolou e passou a recusar a maioria das comidas. Por isso, decidi que todo mundo que participou, vai receber alguma coisa, mesmo que seja um cartão postal, tá? Entrarei em contato com cada um em breve!

Eis o gabarito:

1. B (o nome dela é Lily mesmo, só tem 2 dentes, não toma leite artificial e nunca chupou chupeta)

2. C (parto normal com anestesia, relato aqui)

3. D (ano do dragão – e acreditem, essa carinha de boneca não tem nada de frágil. Ah! E não existe ano do leão, só por curiosidade)

4. B (canadense nascida no Canadá, mas acertou quem falou C também. A alternativa B está incompleta e eu deveria ter colocado que ela é canadense e brasileira)

5. C (sonecas tensas, sempre no sling. Toda a verdade aqui e video com bola aqui)

6. A (nunca dormiu a noite toda, pode acreditar!)

7. C (a Lily ainda não esteve no Brasil)

8. D (como teve gente que deduziu bem, ela adora a cosquinha na gengiva e ama escovar dentes (eu sei que isso não dura muito))

9. D (parabéns a quem deduziu que se ela já andasse já teria video em todos os lugares! haha)

10. B (não tem comido de tudo, mas descobri que come bem mais se eu deixo ela pegar a comida com as mãos!)

E claro, as provas corrigidas (clique pra ampliar)! Note que todo mundo ganhou adesivinho especial, hein? 🙂

resultado

* Fun fact #1: você sabia que provavelmente sou a única pessoa da minha geração que nunca viu a viúva Porcina colorida?

** Fun fact #2: você sabia que hoje meu marido viaja muito, mas quem começou viajando assim fui eu? E que hoje ele trabalha na atual empresa por minha causa?

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Muito obrigada a todos que participaram da brincadeira!


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Dona Lu e seus quatro filhos

– 4 filhos? Tem televisão em casa não, é fia?

– Imagina se o problema é ter ou não televisão. O problema hoje em dia, amiga, é ter computador!

* * *

Nicolas é o primogênito. Adora brincar com água (mesmo nos dias frios), se vestir de monstrinho (mesmo depois do Halloween) e lamber a tigela de massa de bolo (mesmo que tenha que dividir com a mãe). Tem 4 anos de idade.

Lily é a sapeca. Sorri na mesma quantidade que chora, engatinha mas só quer alcançar a mãe, dá tchau mesmo que seja pra mosquito. Acabou de completar 9 meses.

Nicolilando por aí é o filho coruja. Fala pelos cotovelos, é cheio de abobrinha, mas por sorte só costuma aparecer uma vez por mês. Tem uns 3 anos de idade.

Lalelilolu Studios é a caçula. Tem mais novidades que o Nicolas em dia que tem escola, é tão lúdica quanto a Lily quando se veste de joaninha e é linda como qualquer sonho que se realiza. Acabou de nascer.

Mas já aceita visitas.

Passa lá?

* sim, esse é um jabá-editorial


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E por falar no Nicolas… hoje ele faz 4 anos

Por a gente morar fora, eu sempre fui um pouco apreensiva com a ideia de ser a principal propagadora da língua materna pros meus filhos. Afinal, sou mineira e portanto, uma irremediável decepadora de palavras. Outro dia, passávamos perto de um estacionamento e Nic gritou entusiasmado:

– Mamãe, alá que tan’de carro bunito!

Fechei os olhos, dei de cara com meu âmago e disse pra mim mesma “vixe, agora que o estrago já foi feito, xá pra lá.”

Mas segundo meu marido, a mineirice é o de menos. O problema são mesmo minhas esquisitices. Pois que culpa tenho eu de achar que palavras como “cílios” ou “passas” combinam mais no plural, gente?

– Tem UM CÍLIOS agarrado no meu lápis. (lin-do!)

– Quem pegou A PASSAS que estava no meu pires? (a-ha-so!)

– Fui comendo UM MUFFINS no ônibus. (claro, ataco no inglês também)

Assim que um dos passatempos prediletos meu e do Nic, não podia ser outro: adoramos brincar com o português. Quando estou cozinhando, na hora do banho ou quando saímos pra caminhar. Além de inventarmos várias palavras engraçadas, a gente adora brincar de sufixo.

– Nicolas, quer comer uma panquequícolas? Estão delicícolas! Provícolas!

No que ele me responde:

– Sim, mamãe. Põe duas panquecães! E tem sucãe de maçãe?

E rolamos de rir. Coisas de mãe e fícolas. Histórias pra gente lembrar pra sempre.

E por falar em histórias, taí outra coisa que ele gosta, especialmente da forma que eu tenho contado. Sua preferida é a do Chapeuzinho Vermelho. Só ontem tive que contar 3 vezes! Pra ele, o mais divertido é que eu vou trocando algumas palavras nas histórias, fingindo confusão:

– Era uma vez, Chapeuzinho Cinza. Ó! Não, Chapeuzinho Rosa. Não! Chapeuzinho Vermelho! Ah, agora sim. Pois bem, Chapeuzinho Vermelho ia levando doces pro Lobo Mau. Ó, não! Pros três porquinhos. Não? Ah, sim, pra Cuca! Não? Pra quem então?

Nesse ponto Nic não consegue nem responder, de tanto que ri. Eu simplesmente adoro isso. O único problema é que uma história que poderia ser contada em 5 minutos, dura 20. Mas compensa, especialmente agora, que ele voltou a ir pra escolinha e vamos andando todos os dias pra lá. Tempo pra contar histórias é o que não falta.

(primeiro dia de pré)

E por falar em escolinha, Nic voltou de vez. Nada como esperar o tempo certo da criança. Pra quem acompanhou, ano passado já tínhamos tentado, mas ele chorava demais e todo dia dizia que não queria ir. Por mais que a gente gostasse e acreditasse que aquela escola era ótima, não dava pra ignorar seus apelos. Então resolvemos esperar.

(o quintal da escola)

Hoje, como ele está mais maduro, completamente desfraldado e entendendo e falando várias coisas em inglês, Nic está realmente aproveitando mais. Adora a professora, os amiguinhos, a comida e todas as atividades lúdicas de lá.

E por falar em atividades, sua paixão número 1 é caminhar. Caminha, lidera por trilhas, sobe e desse morros – tudo, enquanto coleciona galhos, pedras e folhas.

Ah! E não deixa um lixo pra trás: “mamãe, não podemos deixar esse lixo aqui. Vamos encontrar um lata pra ele morar?” – me diz ele. Mas quem carrega o lixo sou eu. Engraçadinho.

Além de caminhante inveterado, também tem gostado muito de andar de bicicleta (coisa que não gostava) e adora seu velho e bom taekwondo, assim como as recém iniciadas aulas de natação. Pra nossa surpresa, sua professora, que é canadense, também fala português – tudo porque morou um tempo no Brasil. Mas o mais bonitinho foi ele ter ficado intrigado com o fato dela falar nossa língua: “mamãe, mas como? como ela sabe falar português? me explica?”. Gostei da percepção dele.

Como sempre, ainda ADORA um balanço, mas por outro lado, voltou a ter medo dos escorregadores grandes: “não, hoje não… vou escorregar outro dia” – sempre me diz ele. Mas nunca vai. Tem dia que prefere brincar com a Lily que desafiar um escorregador.

E por falar em Lily, ah… ela é sua paixão. Sempre cuida dela, brinca, faz gracinhas pra ela rir e é muito, muito carinhoso. Tudo bem que ainda reluta em emprestar seus carrinhos, mas tá aí uma paixão que vem de desde muito antes da Lily, né? Não dá pra superar assim em poucos meses. Se Lily está chorando, o Nic para o que estiver fazendo pra ver o que é: “o que é mamãe? ela machucou? tá com sede? com fome? quer que eu dou água pra ela? quer que eu canto música?”. Um amor. Sem dúvida, sua companheirinha favorita.

E por falar em favoritas…

Música? Palavra Cantada, Amor I love you (Marisa Monte), Father and son (Cat Stevens)

Vegetal? Brócolis, muitos brócolis

Frutas? Maçã, uva e kiwi

Comida? Arroz e carne

Bebida? Leite

Café-da-manhã? Panqueca com meladinho (maple syrup)

Veículo? Caminhão de bombeiro

Língua? Português (adora!), mas só brinca falando inglês.

Cor? Verde. Às vezes azul.

Sorvete ou chocolate? Sorvete e chocolate.

Livros? Coleção da Stella and Sam

Desenhos? Stella and Sam, Diego e Toupe and Binou

Amiga imaginaria? Uma trilha.

Principais defeitos? Teimosia e certa dificuldade em obedecer ordens.

Mania? Ao contrário da mãe que jogava suco na comida, Nic adora jogar comida no suco.

E por falar em mania… Nic faz perguntas, mas raramente aceita as respostas. Nunca dormia de meia, hoje não dorme SEM meia. Está sempre se escondendo pela casa e lá do seu “esconderijo ultra-secreto” me grita: “mamãe, pergunta ‘cadê o Nicolas?‘”

E por falar em Nicolas… hoje ele faz 4 anos.

Feliz Aniversário, meu menininho. Te amo muito, do fundo do meu coração!

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Ontem, pra comemorar o ultimo dia do Nic com três anos, postei diversas pérolas dele na fanpage no facebook. Passa lá pra ver!


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a cria, a babysitter e uma mãe de peruca

Tá vendo só, é isso que acontece. A pessoa some, fica séculos sem dar as caras, e aí? Se acumula de gostosura da cria pra postar, de coisas pra contar e como vocês comprovarão logo, principalmente de MUITA bobeira pra extravasar!

Mas primeiro, deixa eu fazer um resumão… onde foi que eu parei mesmo? Ah sim, quando as visitas foram embora. Então, gente, fácil não. Pensa comigo: se a pessoa sempre teve dois braços, ela passa um aperto monstro, mas como não sabe o que é ter mais braços, segue a vida normal. Agora, se a mesma pessoa, de repente fica com 4 (ou até 6) braços por MESES e de repente volta a ter dois, é no mínimo traumatizante, concorda?

Então. Ainda tô me recuperando. Mas vamo lá.

 

 

Durante esse tempo, Liloca fez 7 meses, aprendeu a bater palmas (fofa fofa!), dá tchau quando quer (e eventualmente mistura com bateção de palmas), senta sem apoio, come com uma-boca-boa-que-só-vendo, MAS continua bebê dependente de colo. Vai gostar, viu? Tirando o milagre de que outro dia ela dormiu 1 hora na cama pela tarde, a maior parte do tempo é só no colo. Nossa simbiose é tão grande, que chego a sentir como se eu ainda estivesse grávida dela, só que com uma barriga gigantesca e itinerante, que ora tá na frente, ora tá nas costas. Uma loucura isso.

(barriga nas costas – aí, nota-se que a mãe canguru dá seus pulos e ainda trabalha)

Já Nic, tem vivido alguns momentos BEM difíceis e complicados de se lidar. Tô crendo que a fase tá passando (dedos das mãos e pés cruzados) e vou contar tudo com mais detalhes no próximo post. O bom é que a natureza dele é boa, então as crises sempre se intercalam a boas risadas.

 

 

E olha aí ele depois de colher o primeiro tomatinho no nosso quintal! Agora, me pergunta: ele comeu??? Deixo a resposta pra vocês advinharem.

* * *

Pois ontem, estas duas crianças bonitas tiveram sua primeira experiência com uma babysitter. É que finalmente chegou a hora dos seus pais fazerem uns programinhas de adulto, né? Como fãs de carteirinha que somos, fomos assistir ao stand up do Jerry Seinfeld. Gente, que sensacional! Foi tão bom que eu até consegui esquecer que a Lily ficou chorando no colo da babysitter quando a gente saiu. E olha que eu dei peito, fiz ela dormir e tudo, mas não adiantou. Logo depois que a gente arrancou com o carro ela acordou e abriu a boca a chorar. Não foi fácil seguir em frente, mas foi melhor, pois no final das contas, apesar dela ter chorado por mais um tempo, dormiu, jantou bem e a gente pode aproveitar um pouco.

Mas o que partiu meu coração mesmo, foi a reação dela ao me ver de volta. Ao invés de rir, explodiu foi num choro super sentido, como quem diz “como você teve coragem de me abandonar assim, minha companheira simbiótica?”. Mas bastou um minuto pra ela ficar MEGA feliz. Aliás, ficou doidona: não sabia se ria, se dava gritinhos, batia palmas, tchau, balançava as perninhas… Ela ficou elétrica e puro sorrisos! Bonitinha. 🙂

* * *

Bom, agora chega de papo furado. O video abaixo surgiu da necessidade de postar uns videos que estavam aqui mofando, além de uma vontade INCONTROLÁVEL minha de usar peruca! Gente, me siento otra persona! Ele foi feito por pura diversão e falta de senso de ridículo, então não reparem nas cenas descontínuas, pois foi tudo gravado aos poucos, quando dava – em dias, horários e humor diferentes.

E claro que tinha que ter uma participação especial, né? A Cíntia, além de inteligente, engraçada e linda, tem obviamente um parafuso a menos por ter topado participar disso aí. E ainda me ajudou com várias ideias! Adorei a parceria, fia!

Ó, cuidado com o volume, tá? Ele às vezes fica um pouco mais alto. Mas o bom é que o resultado ficou tão sério e classudo, que se te pegarem assistindo no trabalho, você diz que está se informando, assistindo um noticiário.

Bora assistir?

 


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Relato de parto da Lily (parte 2 de 2)

(Veja a primeira parte do relato aqui.)

A hibernação

Bem que me disseram que a partir da segunda vez o corpo já sabe o que fazer. Tava eu lá, com 40 semanas e 1 dia, sem contração, sem nesting, sem nada. Vou despretensiosamente pra minha consulta semanal com a midwife e pimba: 3 cm de dilatação. Eu, a mesma pessoa que outrora sentiu 5.437 horas de dor pra dilatar 2 cm, se encontrava naquele exato momento e sem o mínimo esforço, 3 cm dilated, como disse ela. Uma serenata para os meus ouvidos.

“Então, vou pra casa hibernar que tem tudo pra eu acordar amanhã e encontrar Liloquinha do meu lado auto-nascida, auto-mamante e quiçá auto-desfraldada” pensei, já me sentindo toda ursa.

Hiberno.

10 horas da noite, coliquinhas, pequena dor nas costas, sensação de quadris se estirando. Fofura, Liloca já tinha começado a parte pesada da sua jornada de trabalho. Sorrio, bato o cartãozinho dela, anoto a hora ainda de olhos fechados, continuo a hibernar.

1 da manhã, estado hibernante semi-profundo, cólicas um pouco mais fortes. Abro o canto do olho, pego o celular, escrevo pra minha doula. Melhor prepará-la. Volto a dormir apesar das leves contrações. Eu tava curtindo esse negócio de ser ursa!

5 da manhã, opa! O negócio tá ficando mais forte, mas ainda sob controle! Continuo deitada, olhos fechados.

5.10 da manhã. Estado hibernante em risco. Foco, foco, preciso de foco. Mentalizo cor azul, floresta, lago, gnomos, elfos, Gollum e nada. Ah sim, Lily! Visualizo a Lily descendo, a pélvis se abrindo, a dor indo embora. Ufa! Essa foi por pouco!

5.15 da manhã. O bicho tá pegando. Começo a respiração diafragmática. Inspiro… tá doendo. Expiro… eu posso, sou ursa. Inspiro… isso aqui tá ficando forte. Expiro… sou ursa, sou capaz. Inspiro… aijesuis, não vou dar conta. Expiro… dou conta sim, sou animal hibernante, peludo, peso 400kg, vou parir, nem vou sentir. Inspiro… que dor mutante é essa? Expiro. Palhaçada esse negócio de ser ursa, tá doendo pra caraleo!!!

Me levanto e vou fazer alguma coisa que preste.

Entro no chuveiro, Rafa liga pra midwife. Ela e a doula estão à caminho.

*

O trabalho de parto/equipe

Lá fora, fazia um frio de rachar. Eram 8 da manhã e o sol começava a nascer. A luz entrava pelas janelas da sala e eu sentia uma gostosa sensação de felpudo (conhece?) que eu jamais vou esquecer. Nic estava em casa, sabia que a irmãzinha estava chegando, mas brincava quietinho com a vovó, lá no quarto dela. Nao sei o que teria feito sem ela!

De uma só vez chegam a doula, a midwife, as contrações descabelantes e as lágrimas de emoção. A Lily estava a caminho!!! Eu estava com 6 cm de dilatação, contrações a cada 3-4 minutos, e ainda conseguia controlar a dor se eu ajoalhasse e me reclinasse pra frente, mexendo os quadris. Mas as coisas estavam progredindo rápido demais e 15 minutos mais tarde, as dores ja alcançavam um outro patamar – o patamar das contrações mutantes, durante as quais eu quase não conseguia encontrar uma posição que amenizasse e nem mesmo conseguia falar direito.

Eu adentrava os portões da Partolândia. Foi aí que decidimos ir pro hospital.

E como foi dificil o trajeto até lá! Descia a escada, uma contração. Vestia o casaco, mais uma. Calçava a bota, todo mundo vinha me ajudar mas mesmo assim quase não consegui, a dor estava a nível paralizante e ter que pensar e fazer algo à mais naquele momento, mesmo que simples, estava quase impossível. Fui em direção ao carro e mais uma me pega. Ah! O Nic! Tenho que me despedir dele. Volto pra dentro de casa e entre uma contração e outra consigo dar um beijo nele e dizer que eu estava indo pro hospital pra Lily nascer. Com uma carinha compreensiva ele diz “tá bom, mamãe” e volta a brincar. Valeram os livrinho e conversas que tivemos nas últimas semanas! Volto pro carro, entro e a posição nao podia ser pior. Reclino o banco, me deito de lado e vamos!

No hospital, fui imediatamente pra banheira. A água quente amenizou as dores a principio, mas nao por muito tempo. Daí, eu só queria saber de gritar e quando eu gritava me esquecia de respirar como devia. Ainda bem que eu tinha minha super equipe pra se revezar e me dar todo o suporte que eu precisava, todos sempre olhando nos meus olhos, me lembrando o ritmo da respiração, segurando minhas mãos. Me senti realmente acolhida e segura, mas as dores estavam fortes demais e me lembravam muito as piores dores que senti no parto do Nic. Eu fui entrando em pânico.

A midwife então percebeu que eu estava perdendo o controle da situação e junto com a doula diziam pra eu repetir: “I can do it, I can do it” (eu consigo fazer isso). Só que à medida que o tempo passava, minha vontade era de chorar. Eu repetia aquelas palavras mas não sentia seu impacto. Por dentro eu chegava à conclusão que meu destino seria Madagascar.

(Pena que eu não tava pra brincadeira naquela hora, senão podia ter começado a cantar “aiêêê, Madagascar Olodum! Aiêêê, eu sou o arco-íris de Madagascar!“. Seguro que teria me relaxado um pouco. :D)

Mas enfim, de repente o inesperado aconteceu e as contrações que vinham a cada 2 minutos, passaram a vir cada vez mais espaçadas e fracas. Porque? Era eu mesma sabotando o processo inconscientemente. Aquela coisa chamada poder da mente, só que com ação contrária. Então a midwife veio conversar comigo. Ela segurou minhas mãos, pôs a outra no meu rosto, olhou nos meus olhos e disse que eu estava fazendo um lindo trabalho e que tudo bem sentir medo, mas eu precisava encontrar uma forma de me libertar dele e deixar a Lily nascer. Foi aí que eu proferi minha palavra mágica. Com isso, ela se levantou e disse que iria providenciar tudo, mas que só tinha um problema: o anestesista estava no meio de uma cirurgia e ela não fazia ideia de quando ele estaria liberado pra me atender.

Eu não sei exatamente quanto tempo mais fiquei ali na banheira, só sei que o anestesista apareceu por volta de 12:30. Talvez eu tenha ficado duas ou três horas naquele estado de vai não vai, renovando a água quente, tentando várias posições e ainda sofrendo com cada contração. Durante esse tempo cheguei a pensar várias vezes que fosse conseguir parir sem anestesia, mas quando a contração vinha forte demais eu me contraia ao invés de relaxar e isso fazia com que a dor ficasse ainda pior. E apesar das palavras de encorajamento de todo mundo, eu sentia que só relaxaria depois da analsegia. E estava em paz com minha decisão.

Por isso, quando ouvi que o anestesista tinha saído da cirurgia meu rosto se iluminou na hora. Finalmente me senti feliz de novo! Enquanto ele preparava minha injeção a midwife checou como estava a Lily e pra nossa surpresa, ela estava mal posicionada. “Ahhhh, eu sabia. Não era à toa que eu sentia aquela conhecida dor, a dor do mal posicionamento bebezístico”, pensei. Aleluia! Aos poucos meu bom humor estava voltando.

E como eu estava fora da banheira, as contrações começaram a vir avassaladoras. Nao vinham como simples ondas, mas como tsunamis gigantescos. Eu gritava enlouquecidamente, enquanto a midwife me pedia pra ficar de quatro e ajudar a Lily a se encaixar. Eu tentava, mas mais parecia uma maluca descabelada. Até que por um segundo eu olho pro meu lado e vislumbro a imagem turva de um anjo se aproximando. “E então, vamos acabar logo com essa dor?”, proferia a figura angelical em câmera lenta.

Um minuto depois eu adentrava as portas do paraíso. Foi aí que ri pela primeira vez em horas, que eu consegui olhar pro rosto de cada um que me acompanhava e me sentir eternamente grata por tudo o que tinham feito por mim até aquele momento. Agora sim, eu enxergava a Lydia, a midwife mais doce e dedicada que eu podia querer, a Lana, minha doula de mãos mágicas, meu amado Rafa, sempre presente, o rosto sorridente do anestesista, enfermeira Lilian que dali pra frente também me acompanharia, a paisagem incrivelmente linda pela janela e… o pacote de castanhas que rapidamente se esvaziava ao ataque da minha equipe faminta. Já passava de 1 da tarde!

– Não sei dizer com certeza, mas algo me diz que vocês estão com fome, huh?

Todo mundo riu aliviado. Meu bom humor estava de volta.

Dali pra frente foi tudo alegria. Conversas alegres, muita risada e o melhor, eu continuava sentindo cada contração, mas sem sofrimento, sem tensão, sem medo. Os batimentos cardíacos da Lily continuavam ótimos e eu sentia um alívio e leveza tão grandes que tudo o que eu queria era rir, gargalhar, celebrar.

Por fim, eu me tornava ursa de verdade. Quem diria? Talvez, não do tipo que pare hibernando, ou do tipo que pare sem anestesia, mas certamente do tipo que pare tranqüila. Eu estava pronta pra continuar.

A posição na qual me senti mais confortável foi deitada meio de lado, com a cama inclinada na frente. Nessa posição, a Lily finalmente se encaixou direitinho e logo depois comecei a sentir vontade de empurrar. E como eu também queria ter o cuidado de proteger a minha bexiga, que tinha descendido um pouco após o parto do Nic, cada empurrão foi o mais suave que consegui e mais direcionado ao final de cada contração, segundo recomendação da fisioterapeuta.

Só nesse momento minha bolsa estorou. As contrações ficaram mais fortes e logo em seguida eu senti a cabeça da Lily saindo. Pus a mão e “quanto cabelo!!!”, eu disse admirada. Tudo o que eu sabia era rir, parecia uma louca parideira. A Lydia disse que era a primeira vez que ela acompanhava um expulsivo tão descontraído. Então, passei a acompanhar a saída dela por um espelho e numa contração a cabeça saiu. Indescritível a emoção que senti. O mais lindo de tudo, era que a Lily trazia uma das mãozinhas grudada no rosto, da mesma forma que vimos nos ultrassons e como ela passou seus primeiros dias de vida depois, sempre com as mãozinhas na bochecha. Fofa, fofa, fofa!

E antes mesmo do resto do corpo dela sair, ela chorou. Um choro forte e alto. Mais uma contração e o corpo sai. Eu consegui!!! Minha filha tinha nascido!

Ela vem imediatamente pro meu colo ainda chorando, eu chorando, várias pessoas chorando. Foi uma choradeira geral, misturada com riso, claro. Era o dia 3 de fevereiro, 2:09 minutos da tarde. Foi só quando vimos nossa florzinha pela primeira vez que contamos o nome dela pra todo mundo: Lily. Que coincidencia, pois ali estavamos eu, Luciana, a Lydia, a Lana e a Lilian. Todas com “L”.

A Lily ainda chorou por mais um tempo, linda… eu e papai ali namorando aquela carinha meio enrugada, a testa franzidinha, os olhinhos fechados, vermelhinha, a boquinha aberta mostrando a língua dobrada pra cima e aquele tanto de cabelo… Tão diferente do Nic à primeira vista!!! Quando ela parou de chorar, abriu os olhos que pareciam negros e instintivamente começou a buscar o peito. Mamou ali mesmo, por uns 20 minutos, enquanto o cordão era cortado pelo Rafa. Depois ela caiu capotada. Bem vinda ao mundo, florzinha!

Nisso, voltei a sentir mais algumas contrações. Era a placenta. Fiz um pouco de força, ela saiu, mas com ela começou uma forte hemorragia. Enquanto o Rafa ficou com a Lily ali do meu lado, elas me deram uma injeção pra parar o sangue. A Lydia parecia um pouco assustada mas eu me sentia bem.

Enquanto minha laceração (de segundo grau e que ocorreu ao longo da antiga epsiotomia) era suturada, a Lily tomava a vitamina K e ia sendo pesada, medida e limpada. Mas só foi tomar banho mesmo por volta da mesma hora no dia seguinte.

* * *

De resto, com a Lily foi tudo muito mais fácil. Passei somente aquela noite no hospital, tomei banho sozinha tranquilamente, comi feito ursa desibernada (ou seria desembestada?) por uns 5 dias seguidos, Nic e vovó foram nos visitar no mesmo dia que a Lily nasceu (e eu quase mordi a mão dele porque ele queria comer da minha comida – poxa, eu disse que tava faminta! :)), tomei muito complemento pra repor o ferro nos meses que se seguiram e apanhei bastante por umas 2 ou 3 semanas pra amamentar a Lily – mas consegui!

Hoje, Liloca já esta quase completando 5 meses. É sorridente, brava, adora um colo e é cabeluda como uma ursinha. Até duas semanas atrás, parecia ter sono 24 horas por dia. Há quem diga que os nenéns são assim. Eu tenho pra mim que é culpa do gene hibernante. Heranças da mãe ursa. Não disse que tinha virado uma?

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Parte 1 do Relato de Parto da Lily

Lily nasceu, entre risos e lágrimas de emoção (relato rápido escrito no dia seguinte ao nascimento dela)


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Relato de parto da Lily (parte 1 de 2)

Meu grande sonho era ter um parto de ursa.

Por acaso você sabia que as ursas parem seus ursinhos ENQUANTO hibernam? Surreal, não? Ou seja, dona ursa engravida no verão, cava sua toca no outono, vai dormir quando o frio aperta, entra em trabalho de parto e nem tchum, pare os toquim de urso enquanto puxa o ronco, amamenta em livre demanda sem nem notar e quando ela acorda as peludices catarrentas já estão lá praticamente criadas: dormindo sem ninar, andando sem cair, com todos os dentes na boca e se bobear já estão até desfraldadas (ô inveja!).

Claro que nem tudo são flores, já que pra cria ter chance de sobreviver dona ursa tem que engordar pelo menos 200 kg. Sim, duzentinho. O interessante é que até o final da hibernação a danada consegue perder tudinho, acredita? Também pudera, experimenta ficar 6 meses numa caverna sem comer, parindo, amamentando pelo menos um par de ursinhos famintos com um leite 33% gordura (o humano tem 3%) e ainda tendo que manter uma camada adiposa suficiente pra manter a galerinha toda aquecida durante um inverno invernoso. Mole não. Principalmente se as bolinhas de pelo nascem com 500 g, mas pesam entre 10-20kg no final do inverno. Ui!

(Por isso nao é de se admirar que mal chega a primavera a ursarada saia que nem doida da hibernação cruzando quintais alheios em plena luz do dia em busca de alimento, né? Pensa bem. Mole não mesmo!)

Então. Mas acontece, que bem ao contrário das ursas, a experiência que eu tive parindo meu primeiro filho não chegou nem perto dessa naturalidade toda de “vou lá dar uma dormidinha e quando eu acordar te apresento meu filho”. Podia, né? Mas tudo o que eu conseguia pensar quando engravidei pela segunda vez, era em como diabos aquela criaturinha iria sair de dentro de mim. Mas tive meus motivos. Assunta aí o resumão do parto do Nic pra você entender.

Na gravidez dele, que durou 41 semanas e 1 dia, tudo o que eu mais tinha era tempo. Tempo pra pesquisar, ler, fazer ioga, kegels, participar de grupo de discussão, grupo de grávidas, fazer plano de parto, me envolver, me preparar – afinal, eu queria um parto o mais natural possível. Nessa época a gente morava na Austrália. Mas como é impossível prever e se preparar pra tudo nessa vida, nunca imaginei que eu viria a sentir tanta dor, por tanto tempo, pra tão pouca dilatação. Frustrei e surtei. Mas faz as contas aí, amiga. Foram 23 horas de pródomos com contrações doloridas a cada 10-4 minutos que me dilataram 2 cm, mais 10 horas com contrações mutantes a cada 5 minutos que não me renderam NENHUMA dilatação e mais 13 horas com contrações mutantaças a cada 5-3 minutos. Tudo isso, tendo ficado dois dias e duas noites sem dormir e sendo acompanhada por uma equipe com a qual eu não tinha sintonia. Pra piorar, Nic estava mal posicionado e por mais forças que eu fizesse ou diferentes posições que tentasse nas 3 horas de expulsivo, ele não descia. Terminei com o combo analsegia-epsiotomia-extração-a-vácuo. Nic nasceu com 4,15kg e uma senhora duma cabeça.

Ou seja, quando engravidei da Lily eu estava TODA trabalhada no trauma. Medo, muito medo de tudo aquilo se repetir. E sabe o que que o medo faz, né? Ele gera tensão, que gera dor, que gera? Mais medo! Dai começa tudo de novo. É o famoso ciclo medo-tensão-dor.

Por isso, quem me dera ser ursa quando me vi grávida de novo, mesmo com a perspectiva de ter que engordar 200 kg, viu… Mas eu nao era ursa, a Lily tinha que sair de mim de alguma forma e tudo o que eu sabia é que EU não queria que fosse pela barriga. Então só tinha uma saída: tentar me livrar daquele estorvo psicológico.

O plano de ataque

Uma das formas que eu encontrei pra combater meu medo, foi falar dele, MAS nunca no blog. Não sei se alguém reparou, mas nunca cheguei a escrever aqui sobre minhas expectativas do parto quando estava grávida da Lily. Simplesmente porque eu não estava afim de expor meu medo assim.

Mas acabei falando pra algumas pessoas. Conversei muito com meu marido, amigas daqui do Canadá, minha amiga Si, além de algumas fofas da blogosfera. Uma delas e que me ajudou muito (mesmo sem saber) foi a Cíntia, que também teve um parto difícil e sabia do que eu estava falando (né fiona?). Além da Dani e da Fabi, com as quais troquei vários emails e elas sempre me motivando: vai dar tudo certo, Lu, confia! :: Muito obrigada a todas vocês!

* * *

Mas o mais importante que fiz foi analisar o que tinha saido errado no primeiro parto pra tentar fazer diferente no segundo. Um dos grandes problemas no primeiro, foi não ter podido escolher a equipe que estaria comigo. Imagina você, que se o parto é um dos momentos mais íntimos e intensos que uma mulher pode ter na vida, se o ambiente não tem o mínimo de respeito e good vibes, como ela pode se sentir acolhida, confiante e à vontade pra se entregar, se transformar, virar bicho se quiser?

Pois bem, essa foi a primeira coisa que eu decidi que tinha que ser diferente. Felizmente, consegui uma midwife com a qual estabeleci um vínculo forte e de confiança desde o início da minha gravidez, uma doula que mora a um quarteirão da minha casa e tratei de conhecer melhor o meu corpo. Pra isso, tive a sorte de ser encaminhada a uma fisioterapeuta especializada em fisiologia feminina, que além de muito conhecimento, tinha também muita empatia e perspicácia.

Foi por causa dela, que hoje conheço meu corpo melhor que em qualquer época da minha vida. Ela reparou que eu tenho a pélvis um pouco rotacionada pra direita e pra baixo (devido a uma perna minha ser um pouquinho menor que a outra – normal, viu gentz?), e que por causa disso alguns músculos da pélvis eram mais tencionados (e doloridos) que outros. Esse foi o pulo do gato pra entender porque Nic tinha ficado “agarrado” na hora do expulsivo. A partir disso, ela identificou todos os músculos que poderiam me atrapalhar ou ajudar na hora P, me ensinou massagens locais, a melhor postura pra me sentar e ficar de pé, diferentes tipos de Kegel e exercícios de respiração. Depois orientou toda a equipe que me acompanharia, incluindo meu marido, que independente da posição que eu terminasse no parto, eu deveria tentar rotacionar minha pélvis um pouco pra esquerda pra balancear e ajudar a saída da Lily.

Tanta informação me ajudou a resgatar de forma incrível a minha confiança em um parto redentor, mas não a ponto de tentar um parto domiciliar. Desta vez, meu maior plano seria não ter plano, mas agir de acordo com meu instinto. Senti que no parto do Nic eu tinha me cobrado demais e que se tivesse sido mais flexivel durante o processo, eu talvez tivesse hoje uma memória mais positiva daquela experiência toda (who knows?). Por isso, disse à minha midwife que se em algum momento eu achasse necessário, gostaria de ter a opção da analsegia.

Hora nenhuma ela se opôs, conversamos sobre os riscos e ela me disse que essa era uma decisão muito pessoal minha. Acrescentou que uma boa forma de eu avaliar se precisava ou não da analsegia, era tentar mensurar minha dor durante o trabalho de parto. Se o que eu sentisse fosse forte, porém suportável, que eu deveria tentar continuar sem a anestesia, mas se eu estivesse realmente SOFRENDO e a dor estivesse me impedindo de aproveitar a magia do momento, apesar de todas as outras técnicas pra ameniza-lá, então podia ser o caso pra analsegia. Assim, ela sugeriu que eu escolhesse uma palavra “secreta”, uma que eu não costumo dizer com freqüência e que seria de conhecimento de todos que me acompanhassem no TP. De cara tive que descartar as palavras “bizarro”, “sorvete” e “aijesuis”. Acabei escolhendo “Madagascar” por causa de um filme ótimo do Woody Allen onde ele entra num transe hipnótico toda vez que escuta isso. Vai que, né? Mas enfim, se em algum momento eu gritasse “Madagaaaaaascar”, minha midwife teria certeza que eu tinha chegado no meu limite e chamaria o anestesista sem tentar me convencer do contrário.

Com isso, todo o resquício de medo que porventura ainda existia dentro de mim se foi e a partir desse momento passei a me sentir mais confiante que tubarão em festa de sardinha.

Na verdade, eu me sentia uma ursa.

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Pra continuar lendo: AQUI.


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A incrível (e hereditária) sutileza masculina

Este post é candidato ao concurso “O melhor post do mundo da Limetree

(Dó dôceis que agora eu descobri que posso entrar no concurso com vários posts… :))

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Rafael é conhecido, entre outras coisas, por sua até bem intencionada, porém brutal honestidade ao emitir sua opinião, principalmente no que tange a visuais femininos. Não que ele seja um expert no assunto, não mesmo. Mas sabe como as mulheres podem ser susceptíveis a opiniões alheias sobre a aparência delas, né? Especialmente aquelas que já tiveram seu imóvel uterino ocupado por um inquilino espaçoso.

* * *

Pois bem. Após semanas se preparando pra aquele aguardado evento (primeira festa de gente grande depois do nascimento do filho, ui!), por fim ela decide o vestido. Só ela sabia da dificuldade que foi andar dias com um menino espevitado a tiracolo em busca do modelito perfeito. Mas encontrou. Talvez um pouco ousado se comparado ao seu usual pretinho básico-que-nunca-tem-erro, mas aquele vestido era especial. Sexy sem ser vulgar, exuberante sem ser exagerado, e principalmente, conseguia esconder com elegância aquela pochete anexada à sua barriga.

Dá então o último retoque na maquiagem, calça aquela sandália que só reforça a imagem de “essa-sabe-o-que-está-fazendo”, pega sua bolsa e sai toda confiante e poderosa do quarto, quando dá de cara com o marido.

Esse, dá um pulo pra trás ao vê-la.

– Credo! Tem certeza que você vai com esse vestido? – solta ele.

Conhecendo o marido como conhecia, ela não se deixa abater:

– Claro que vou com esse vestido, ele é lindo!

– Mas e essa cor???

– A cor? O que que tem a cor? – pergunta ela levando a mão à orelha. Era a pulga.

– Essa cor é MUITO feia, arregalada demais! Não ficou bem não!

– Como assim? Essa cor é fashion! É a cor do verão, todo mundo tá usando, tá? Você não sabe de nada! – reage ela rapidamente tentando impedir sua auto-estima de ir pro brejo.

Mas ele não para.

– Fashion… Pois esse negócio de fashion tá é por fora, tem que usar o que combina com você! – insiste ele mesmo com o risco de levar uma sapatada na cabeça – E olha esse babado estranho! Credo! Melhor se você tivesse arrancado ele fora…

Pronto, agora a pulga tinha virado um hipopótamo.

– Mas vamos assim mesmo que a gente já tá atrasado. Olha, pelo menos seu cabelo tá bonito!

Pois nesse ponto, a pobre vítima já não escutava mais nada. Com seu rímel borrado pelas lágrimas que teimavam em cair, com ódio profundo daquela criatura que já tinha conseguido arruinar a sua tão aguardada festa, agora ela tenta, sem a mínima esperança, encontrar um outro vestido de última hora, que lhe faça sentir tão linda e especial como há poucos minutos atrás tinha ousado se sentir.

Cruel, não é? Pois saiba que pode ser pior.

Imagina agora que ao invés de ousar com babados e cores vivas, a mesma mulher resolva seguir a linha tradicional e por aquele vestido classudo maravilhoso pro casamento da melhor amiga.

O marido em questão a olha de cima a baixo, pede pra ela dar uma voltinha e diz:

– Esse sim, é um vestido bem bonito…

Ela sorri com deleite.

– … pena que não fica bem em você – estraçalha ele, ainda que querendo ajudar, acredite.

* * *

Agora, não pense que ele ataca somente as mulheres próximas com suas críticas não. Sobra pra qualquer uma, até mesmo no momento mais desumano de todos: durante o PRÓPRIO evento.

Foi o que aconteceu a uma amiga nossa, na sua festa de formatura da faculdade. Pobre Maria Eduarda… nunca esquecerei uma figura tão radiante e feliz se esmorecendo daquela forma.

Ela estava linda, com sua delicadeza de sempre, em um vestido maravilhoso naquele corpinho de violão. O penteado, irretocável. Mas pecou, não ao carregar sua maquiagem daquela forma, mas ao passar a menos de 5 metros de distância daquela criatura-sem-travas-na-língua: meu prezado marido.

– Que bom que vocês vieram! – nos recebe ela com nítida alegria.

Eu olho pra maquiagem dela e já prendo minha respiração.

– Parabéns pela formatura! – diz ele já dobrando um pouco os joelhos e analisando o rosto dela por um ângulo e luz melhores.

“Não, fala nada, não fala nada” – mentalizo eu.

– Tá bonita, hein Duda? – diz ele.

Eu volto a respirar aliviada

– Só sua cara é que está meio estranha…

Oh boy. Lá vamos nós.

– Tá alaranjada… e seu pescoço, bizarramente, todo branco.

Não preciso dizer que seu sorriso nublou, né? Nos pediu licença e desapareceu.

Saimos em sua busca, mas encontramos uma outra amiga, que após saber do ocorrido, olha nos olhos daquele ser sem coração e dispara:

– Acorda pra vida, Rafael! Você não pode falar assim com uma mulher! Sabe onde ela deve estar agora? Chorando lá atrás sozinha na beira da piscina. E sabe porque? Por insensibilidade sua! Deixa eu te falar uma coisa. Sempre que você ver uma mulher, mesmo que o batom dela esteja todo borrado assim ó (ela faz o movimento) ao redor da boca, e ainda que esteja parecendo o Bozo, sim, o Bozo! põe na sua cabeça que ela está linda, maravilhosa, perfeita! Principalmente se é o dia da formatura dela!!! Entendeu???

– Mas a cara dela estava esquisita demais. Eu falei porque de repente ela podia dar uma lavadinha no rosto…

– Entendeu, Rafael?

– Entendi.

Entendeu nada, porque ele continuou fazendo isso por um bom tempo ainda.

* * *

Mas então, depois de eu te contar tudo isso, você veja bem a minha sorte.

Tava eu ontem, me arrumando pra sair com o Nicolas e visto uma calça jeans com uma bata que eu amo. Nicolas, agora com quase 20 meses, tá com a mania de antes da gente sair fazer um checagem geral. Ele olha pra mim de baixo pra cima e fala apontando: sapato, calça, busa, bolsa, cabeio.

Pois ni que eu visto esta bata, ele vem e me fala:

– Sapato, calça, sacoia, bolsa, cabeio.

Sim, você não se enganou. O Nicolas chamou minha linda e amada bata de SACOLA.

::

Eu tô feita ou não tô?

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Texto editado do original postado em Junho de 2010, concorrendo a uma viagem pra NY. As votações começam a partir desse dia 15 de Junho! O link é esse aqui tá gente? Valeu!


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Carta à Mãe Natureza – Proposta de Reforma (reblogado)

Este post é candidato ao concurso “O melhor post do mundo da Limetree” 

Querida Mãe Natureza,

Desculpe a petulância em te escrever, eu sei o quanto a senhora é ocupada, mas deve constar aí no meu cadastro que eu estou grávida, né? E mulher grávida a senhora sabe como é, fala o que vem na cabeça e muitas vezes tem umas ideias que não teria em outras circunstâncias, não é mesmo? Coisas dos hormônios.

É que tem uma questão que anda me incomodando bastante, sabe?

Já reparou que quando um casal decide engravidar não existe opção senão a MULHER encarar o processo e abrir mão de um monte de coisas? Olha, dona Mãe Natureza, não estou reclamando do privilégio de se gerar um ser, longe disso. Eu mesma adoro ficar grávida, mas cá pra nós, encarar enjoos, aumento de peso, estrias, discriminação no trabalho, dores por todo o lado, incontinência urinária, hemorróidas, coceira na barriga, limitações de movimentos, mudanças de humor repentinas, andar de pata, diabetes gestacional, entre tantas outras coisas mais, não é lá muito agradável, é? Claro, cada sintoma tem um porquê de existir, afinal estamos gerando uma pessoa com pele, ossos, órgãos e cabelo, eu sei!

Na verdade nem é ter esses sintomas o que mais me incomoda e sim o fato da gente passar por tudo isso enquanto O PAI da criança continua lá INTACTO e levando sua vida normalmente, sabe? Acredita que até  já ouvi falar de homens  que duvidam que a oscilação de humor e crises de choro e raiva que as grávidas têm durante toda a gravidez de vez em quando, não têm nada a ver com a explosão de hormônios dentro delas? É muito chato isso. Meu marido mesmo acha que meus atuais e frequentes lapsos de memória não passam de desculpa, veja só!

Por isso, eu gostaria muito de propor uma pequena reforma, dona Mãe Natureza, por favor não me leve a mal. Olha, não precisa ir lá na origem da fisiologia masculina e sair mudando uma porção de coisas pra gente poder se alternar com eles não. Mas que tal fazer assim: a gente gera e os homens sentem os sintomas?

Tava pensando mais ou menos o seguinte ó, veja se é possível mexer os pauzinhos aí:

Que tal AS MULHERES poderem curtir sossegadas os três primeiros meses e se focarem nos exames, em tomar o ácido fólico de cada dia e lerem tudo sobre o desenvolvimento daquele serzinho que recém formou os dedinhos, enquanto os HOMENS sentem todos os enjoos, vomitam até as tripas só com o cheiro da comida e têm tonteiras e muito sono?

Por que cá pra nós, Mãe Natureza, é meio contraproducente esse negócio de vomitar enquanto temos alguém lá dentro que depende do que comemos, né não? Mas se quem vomitar for o PAI, então problema resolvido, não acha?

Outra coisa… e esse negócio da gente ter esses desejos abruptos e incontroláveis de comer tantas coisas impróprias como pedaços gigantes de torta de nozes ou brigadeiro com colher? Não, o pior não é comer, imagina Mãe Natureza, mas sim, os níveis de glicose e os tantos quilos à mais depois, né? Mas como eu sei que tudo na casa da senhora tem um equilíbrio, que se a gente come em excesso esse excesso tem que ir pra algum lugar, então que vá pra ELES. Assim, a gente continua cuidando pra que nosso bebê não nasça com cara de torta de prestígio ou banana caramelizada, enquanto as calorias à mais migram felizes pro papai da criança. Não te parece muito mais justo? Sem falar que depois, quando a gente estiver amamentando, os quilos à mais vão embora de qualquer forma, não é isso que todos falam? ;)

Assim, acho que ficaria tudo muito mais harmônico, Mãe Natureza. As relações entre homens e mulheres ficariam mais estreitas e cheias de compreensão. Afinal, dá pra imaginar conexão mais forte que essa: minha barriga crescendo, mas meu marido perdendo o equilíbrio, tropeçando e andando com a mão apoiada na lombar inferior ? Minha pele se esticando todinha, mas ele saindo correndo feito um louco atrás do melhor creme pra passar na barriga DELE pra ELE não ter estrias? Eu conseguindo dormir a noite toda pra me sentir revigorada dia após dia (super importante pra saúde do bebê!), enquanto ELE se levanta a noite toda pra fazer xixi ou acorda com um chute nas costelas? Eu seguindo com todas as minhas atividades normais até o final da gravidez enquanto ELE sente as dores nas costas, os pés inchados e todo o desconforto típico associado à esta etapa? Eu dando à luz ao bebê e amamentando em livre demanda, enquanto ELE sente todas as dores do parto e  rachaduras no mamilo?

Tudo isso não contribuiria pra torná-los ainda mais engajados na maternidade e não lhes daria a oportunidade de finalmente poderem participar ativamente e entenderem TODO o processo, dona Mãe Natureza? Pensa bem.

Ah, mais uma coisa, Mami Natureba (desculpa a intimidade, mas é que depois de ter falado tudo isso, me senti tão próxima da senhora), tem algumas coisinhas que a senhora não precisa se preocupar muito em mudar porque dá muito bem pra viver com elas, viu? Tipo, a maravilhosa sensação de borboletas na barriga, os cabelos que de repente adquirem um brilho espetacular, a pele que mais sedosa e lisa impossível, e o mágico retardamento do crescimento dos pelos da minha perna que me permitem depilar somente a cada 3 meses. Pode deixar essas coisas desse jeitinho, tá?

Ah, mas se quiser passar essas unhas quebradiças horrorosas pra ele, também agradeço!

E muitos beijos pra senhora!

Lu

PS: Mãe Natureza, fiquei aqui pensando, agora imagina o que essa reforma não faria pra aquele homem safado que engravida duas mulheres ao mesmo tempo? Hein? ;)

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Texto originalmente postado em Setembro de 2011. Pra votarem nessa grande Proposta de Reforma em favor das mulheres gravídicas corre nesse link a partir do dia 15 de Junho! Obrigada!


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mãe

substantivo concreto e abstrato

1. do sâncrito: sakrîficyo; do latim: mea-culpa; do catalão: la-felicitat-plena; da realidade: criatura-que-também-tem-limites

2. ser comumente disponível, generoso, empático, babão, apegado, descabelado, exaurido, esbaforido e surpreendentemente, com vontade e necessidades próprias

3. pode ser encontrada nos tipos integral, semi-integral ou refinado, mas é sempre parte essencial na saúde emocional dos filhos

4. na literatura zoológica é por vezes referida como coruja, leoa, canguru, vaca ou panda, sendo a última a espécie mais populosa e bem distribuída geograficamente, apesar de raramente bem descrita ou reconhecida

5. inserida na classe das Mammalias, pode ser dividida nas subclasses livri demandum e rotinus estabelecidus

6. pertence à ordem dos Mamíferos e se caracteriza por apresentar glândulas peitárias, ancas largas, abdômen pochete, garganta forte, olhos atentos, ouvido apurado, mente rápida, braços ágeis e sorriso amarelo. Além disso, possui o maior coração já catalogado historicamente.

A mãe não aparece, mas é justamente pra ela que a cria olhava.

E viva nóis! (e viva mais ainda minha irmã que tá vindo aí me ajudar! eeeeehhh)

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PS: Pra ler mais, tudo o que eu penso sobre ser mãe está aqui, no texto inspirado e inspirador da Mari , complementado pelo comentário perfeito da Lia. Arrasarum!


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No Canadá, Lu Azevedo fala da plenitude que é ser mãe – Entrevista Exclusiva

Há pouco mais de um ano eu dei uma entrevista exclusiva e cheia de gramur pra Revista Caras. Pois agora, olha só quem me procurou? A Quem!

– Quem???

Pois é, foi exatamente essa minha reação.

Ah, outra coisa. O leitor assíduo talvez note que eles erraram ao transcrever minha idade. Não é 27, é 26 viu, gente? 🙂

Enjoy!

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Radiante com a chegada da caçula Lily, Luciana conta como é a vida de mãe no Canadá e sobre como perdeu os quilos após a gravidez.

A ilustradora e ex-geóloga Lu Azevedo (27) está vivendo um momento pleno em sua vida e revela com lágrimas de emoção como é maravilhoso ser mãe de Nicolas (3) e Lily (2 meses), frutos da feliz união com o geólogo Rafael (32). “Gerar vidas é uma espécie de milagre”, declara ela. Mas nem tudo são flores e ela conta que atualmente o marido tem viajado bastante a trabalho. “Essa é a parte mais difícil. Como a maioria das famílias daqui, também não temos empregada nem babá. Dar conta de tudo sozinha quando ele viaja tem sido meu maior desafio”, desabafa ela. “Minha sorte é que aqui já fiz grandes amigos que estão sempre tentando ajudar de alguma forma”.

>>De bem com o espelho

Apesar da correria, a ilustradora não descuida do visual. Usando um wrap dress preto, ela conta que o vestido-envelope é a melhor opção pra mulher que acabou de ter filho, pois além de facilitar a amamentação com o decote em “V”, ainda tem a vantagem de disfarçar a barriguinha que sobrou e valorizar a cintura. “Tenho sorte de já ter perdido quase todos os quilos que ganhei na gravidez. Os quilos à mais agora estão aqui e aqui ó”, conta ela aos risos apontando pra barriga e pros seios cheios de leite. Ela também garante que o grande segredo pra se perder peso além de amamentar, é não ter babá. “Não tenho outra opção senão viver correndo atrás do Nicolas”.

>> Mudança pro Canadá

Já no próximo mês de Maio a família completa dois anos que trocou o calor da Australia pelos invernos rigorosos do Canadá. “Mudar pro Canadá foi uma decisão totalmente pessoal, minha e do meu marido. A gente adora morar aqui. O clima é frio, mas as pessoas não, elas são super amigáveis e calorosas”, conta ela com entusiasmo lembrando que no dia que se mudaram os vizinhos bateram na porta trazendo um bolo caseiro de boas vindas. “Parecia coisa de filme”, comenta ela.

>> Como é ser mãe no Canadá

Luciana também conta, que bem diferente do Brasil, no Canadá não existe a cultura de se fazer lembrancinhas pras pessoas que vão visitar o bebê. “Aqui ninguém está preocupado com isso, o que é um grande alívio pra mim! Senão de onde eu iria tirar tempo pra fazer tanta coisa?”, completa ela bem humorada. Luciana também conta que uma prática muito comum na vizinhança onde mora são os amigos se oferecerem pra levar uma refeição nas primeiras semanas que a mulher tem o bebê. “Fiz uma sopa super nutritiva pra uma amiga que teve filho antes de mim e depois ela retribuiu com uma travessa de lasanha. Fiquei dois dias sem precisar cozinhar”, lembra com um sorriso.

Outra diferença marcante são os presentes. “Com o nascimento da Lily ganhamos vários livros, brinquedos e até roupas dos amigos que já tinham sido usadas pelos próprios filhos deles”, revela com admiração. “Achei muito legal, pois sou super a favor do consumo consciente. Pra que comprar tudo novo se as crianças crescem tão rápido? Não faz sentido”, completa. Luciana também conta que outra coisa que ela gostou, foi a forma considerada como muitas pessoas entregaram seus presentes. “Eles simplesmente deixavam o embrulho na nossa porta. Fizeram isso pra não incomodarem mãe e bebê. Achei super bacana”.

1. Mais alguma curiosidade de se ter filho no Canadá?

Uma coisa que ando reparando é que raramente encontro meninas com orelha furada aqui, sabe? Aliás, em geral é até difícil diferenciar meninas de meninos, pois além da falta do brinco, a maior parte das meninas pequenas daqui também não costumam usar muitos enfeites e babados. Várias vezes cheguei a perguntar qual é o nome “dele” e era menina.

2. A Lily não tem brinco. Você pensa em furar a orelha dela?

Não. Todo mundo fala que não dói, mas não sei… E tive tanto problema de inflamação na orelha mesmo usando brinco de ouro, que prefiro não arriscar. Acho também que não furaria a orelha dela somente em nome da estética e pra identificá-la como menina. Cada mãe sabe o que faz, mas eu não ligo muito pra isso. Prefiro colocar uma tiara, um lacinho, sei lá. E o brinco fica pra quando a Lily for maior e decidir que quer um.

3. E como é o sistema médico no Canadá?

Excelente! Só tem algumas peculiaridades… Aqui por exemplo, eles nunca entregam os resultados de exame diretamente ao paciente. Eu mesma não tenho nenhum dos exames que fiz durante minha gravidez e curiosamente, nem mesmo um ultrassom particular que eu decidi fazer por conta própria. Todos os resultados sempre foram encaminhados pra minha midwife (parteira). Outra diferença do Brasil, é que aqui ninguém consegue consulta com um médico especializado sem antes passar por um clínico geral (GP) e este aceitar encaminhar o paciente. Pediatra por exemplo, é coisa rara. Nenhuma criança tem acompanhamento mensal com pediatra como é no Brasil e muito menos se consegue o número do celular dele! O pediatra só entra em cena se a criança tiver uma condição médica que exija mais cuidados.

Eu, como decidi fazer meu pré-natal e parto com uma midwife, foi ela também que acompanhou a Lily nas primeiras 6 semanas de vida. E foi um acompanhamento mais que especial. Durante as duas primeiras semanas as consultas foram na minha casa e eu não tive que pagar nem um centavo por isso. Ela veio quantas vezes eu precisei, me deu total ajuda na amamentação, suporte emocional (afinal eu chorava sem nem saber porque…), pesava a Lily e tudo o mais que fosse necessário. Depois das 2 semanas, eu é que tinha que ir ao consultório dela. E depois de 6, as consultas passaram a ser mensais e com um clínico geral, no caso, nosso médico de família.

4. Sendo agora mãe de segunda viagem, foi mais fácil segurar um recém-nascido, dar banho e coisas assim?

Tudo é mais fácil, mas juro que achei que não fosse saber mais nada. (risos) Pensei isso porque uma semana antes da Lily nascer, passei a maior vergonha segurando o bebê de uma amiga de forma totalmente desajeitada. Mas rapidinho a gente aprende de novo. Agora pra dar banho, dessa vez foi totalmente diferente. Com o Nicolas, tive até que assistir vídeo na internet pra saber como segurar o bebê, (risos) já que não tinha ninguém pra me ajudar, mas desta vez uma enfermeira no hospital nos mostrou como fazem aqui. Por causa do frio, costumam enrolar o bebê todo na toalha e começam lavando o rosto e o cabelo com um paninho. Depois colocam o bebê na banheira, muitas vezes ainda enrolado na toalha pra não traumatizar. (risos) Eu fiz assim até pouco tempo atrás. Outra coisa é que aconselharam dar banho um dia sim outro não, pra não tirar a oleosidade natural e ressecar a pele do bebê. Sem falar que recém-nascido não fica sujo, né? Só fazer uma limpeza nas partes baixas e tá tudo bem.

5. E como o Nicolas tem lidado com a chegada da irmã?

No início, uma beleza, até mesmo quando minha mãe foi embora. Mas hoje em dia voltou a usar fraldas por estar tendo muitas escapadas de xixi e infelizmente tem ficado cada dia mais manhoso também, chorando por qualquer coisa. Tem sido desgastante, mas a gente sabe que é uma fase, que é normal e estamos fazendo de tudo pra ele se sentir querido e parte essencial da família.