Se você acompanhou a saga cósmica que foi o desfralde do Nic, deve se lembrar que demorou horrores pra chegar num final seco e feliz. Começamos o processo quando ele tinha 2.5 anos, mas ele só foi desfraldar pra valer com 3.5 e mesmo assim com inúmeras escapadas por muitos meses depois disso.
Vocês não têm noção, gente. Foi MUITO xixi debaixo dessa ponte!
Já Dona Lily, mal completou sua segunda trajetória elíptica ao redor do Sol e pimba: desfraldou por completo aos 2 anos e 3 meses em apenas 4 dias.
Então você argumenta: Ah! mas é porque ela é menina, mas que ela seguiu o exemplo do irmão, mas porque ela simplesmente estava pronta e ponto. Pois então eu tenho que te contar, colega, que até vésperas do início do processo desfraldístico, Liloca ainda desfilava orgulhosa com suas fraldinhas postas e nem tchum pras calcinhas. Se eu a convidava pra se sentar no penico e tentar fazer um xixizinho que fosse, ela corria assombrada. Aterrorizada. Achava um insulto fazer xixi num troço que foi feito pra colocar na cabeça – de acordo com ela.
Um dia, eu tive uma grande ideia e juro que acreditava que fosse funcionar. Lily tava no auge de imitar tudo o que a gente fazia… Queria vestir nossas roupas, calçar nossos sapatos, copiar nosso jeito de falar e até usar minha maquiagem.
Então pensei, quem sabe ela não se anima e imita sua boneca favorita também?
E fraldei a boneca.
Deixei a Zoey de fralda por vários dias seguidos. Trocava as da Lily, trocava as da Zoey. Lado a lado, as duas amiguinhas. Até que numa bela manhã ensolarada, fingi uma voz de boneca incomodada e a Zoey me pediu pra tirar suas fraldas.
E Zoey passou a usar calcinha.
Lily bateu palmas, comemorou, deu adesivo de trator pra boneca (seu preferido) e se revelou super solidária e companheira. Exceto pra querer usar calcinha também.
Então de repente, Zoey começou a fazer a dancinha do xixi. Botava as mãozinhas na periquita, lançava olhares de “não dá mais pra segurar” e pediu pra usar o penico.
Ficamos todas em polvorosa! O primeiro xixi da Zoey no penico, quanta emoção!!!
Pois Zoey se sentou, ajeitou a melhor posição, esperou uns segundos e…? Ouvimos um barulho!!! Pra mim, era um nítido barulho de seringa esguinchando água por trás da boneca, mas pra Lily, era o mais puro, cristalino e verdadeiro xixi que ela já tinha visto!
Seus olhinhos brilhavam. Ela batia palmas, ria e levava as mãozinhas na boca como quem diz “não tô acreditando!”. Zoey tinha acabado de fazer seu primeiro xixi no penico!!!!
Foi a performance da minha vida.
Nisso, escolhemos um adesivo de trem pra Zoey, a abraçamos, beijamos, e a congratulamos por tamanha conquista!
Aproveitando o momento de euforia e êxtase, me virei pra Lily, segurei suas mãozinhas e disse: “agora é sua vez, meu bem! Quer tentar fazer xixi no peniquinho igual a Zoey?”.
E só fui encontrar a Lily 40 minutos depois, escondida dentro do meu armário, junto com a gata Zelda.
* * *
“Mas então o que foi que você fez, criatura?” – Você me pergunta afoita me saculejando pelos ombros.
Calma! Me solta que eu vou te contar!
O MÉTODO
Saiba você, colega, que não foi simplesmente tirar a fralda dela e deixar a coisa rolar. Eu segui um método que uma amiga me indicou e que tá cada vez mais popular nessas bandas de cá.
Juro que tentei resumir! 🙂
#1 Idade. A coisa mais importante de todas e que contrariou tudo o que eu acreditava até então é que quanto menor a criança, mais rápido e efetivo será o desfralde. A idade ideal é de 22 meses, mas costuma funcionar bem até por volta de 2 anos e meio. A partir daí, fica cada vez mais difícil, pois quanto mais velha a criança, maior é seu apego pelas fraldas e pela comodidade de fazer tudo ali, sem precisar parar de brincar. A criança maior fica mais resistente à mudanças na rotina, e como tem maior habilidade de se concentrar numa atividade, fica ainda mais complicado pra ela se dar conta dos sinais do corpo e correr pra atender ao chamado da mãe natureza.
#2 Comunicação. Eu sempre acreditei que a criança tivesse que apresentar a maior parte dos sinais clássicos de que ela está pronta. Entre eles, demonstrar grande interesse pelo penico (e afins) e ter um bom vocabulário pra poder comunicar suas necessidades básicas. Pois se eu fosse esperar a Lily cair de amores pelo penico, eu certamente estaria esperando até hoje e esperaria muito mais – então já vi que isso não é o essencial. E quanto à comunicação, basta que a criança consiga sinalizar o que ela quer de alguma forma, e se a gente pensar bem, não tem nada a ver com a fala em si, mas mais com a expressão corporal envolvida, não?
#3 Intensivão. O método é intensivo e foi feito pra desfraldar em 3 dias, mas eu acho mais garantido planejar 5.Eu escolhi um final de semana prolongado de 4 dias, quente o suficiente pra ela poder ficar só de calcinha. Como trabalho em casa, se eu precisasse de mais um dia não seria tão complicado.
#4 Dedicação e foco. Essa é a parte crucial do processo! Pro programa funcionar, a pessoa desfraldadora precisa se dedicar 100% à criança durante aqueles 3 a 5 dias, senão NÃO funciona!!! Além da dedicação, vale lembrar que é necessário: amor, consistência, reforço positivo SEMPRE, paciência e FOCO.
Pois agora pense numa pessoa acostumada a fazer MIL coisas ao mesmo tempo, tendo que fazer só UMA por 4 longos dias!!! Gente, eu quase morri de tédio. Mas tem que ser assim, tem que esquecer de celular, televisão, candy crush, seriadinho, trabalho por fazer e internet (tchau facebook!!!). Nada de ficar sassaricando na rua, cismar de fazer faxina, sair pra fazer compra ou ir na casa da Maricota fofocar. Tem que ficar em casa com a cria desfraldenta o tem-po-to-do. Dedicação total? É disso que tô falando. E mais! Tem que verificar com antecedência se a geladeira tá cheia e planejar as refeições uns dias antes (congeladas, delivery, alguém pra cozinhar).
Daí, com todo o esquema montado, mantenha o FOCO na cria. Aprenda a ler os sinais de quando ela precisa ir ao banheiro e esteja ao lado dela em CADA escapada de xixi. Se ela sair de perto, vai atrás. Se você tem que ir pra outro cômodo, leve ela com você. Gruda mesmo.
Agora, se você tiver outra criança, sugiro conseguir alguém pra ficar com ela nesses dias. No meu caso, eu tive que ficar sozinha com os dois por 2 dos 4 dias, mas garanti que o Nic tivesse muita distração pra não me atrapalhar (muito).
#5 Nunca pergunte à criança se ela quer fazer xixi. A resposta certamente será “não”. Diga somente e quantas vezes forem necessárias (eu repeti umas 248929 vezes durante esses 4 dias): “quando quiser fazer xixi, fala pra mamãe”. Pronto, só isso. Não pergunte, diga.
#6 Repetição e consistência. De tanto você repetir essa frase na hora que a criança já está fazendo xixi e levá-la ao banheiro imediatamente (demostrando na prática o que você espera que ela faça), vai ter um momento que vai dar um click na cabecinha dela e ela vai matar a charada. Com a Lily aconteceu no final do primeiro dia (pro cocô demorou até o último).
#7. De tempos em tempos convide a criança a checar se a calcinha ou cueca está sequinha. Repita muitas vezes: “sua calcinha tem que ficar sequinha, tá?” e em seguida: “fala pra mamãe se você tiver que fazer xixi”. Isso vai ajudar a ela a entender onde querem chegar.
#8 Jamais perca sua paciência ou castigue a criança. Espere que o primeiro e o segundo dia terão MUITOS acidentes. É assim mesmo! Mantenha toda uma aura de calma, tolerância e compreensão da natureza humana. Não use palavras negativas e nunca diga “OH, NÃO!”ou “DE NOVO?” ou “QUE PENA…” ao ver a criança numa poça de xixi. Simplesmente pegue a criança nos braços (o ideal é pegá-la na hora que ela tá fazendo, não depois, por isso tem que ser grude!), levá-la ao penico imediatamente e dizer “olha, sua calcinha molhou, tem que ficar sequinha. Da próxima vez fala pra mamãe quando quiser fazer xixi”.
#9. Jamais peça que a criança se sente no penico pra tentar fazer xixi ou cocô. Jamais. Nem mesmo pra ficar lendo um livrinho. Pois dessa forma, ela vai começar a ver o penico como uma punição, mesmo que ela goste muito de livros (afinal, porque ela tem que ficar sentada justo ali pra ler?). Tampouco obrigue a criança a ficar sentada no penico no caso de você ter certeza que ela precisar ir, pois isso é uma forma sutil de coerção, que favorece a autoridade mais que o companheirismo. Prefira que ela faça na calcinha e repita pra ela o que ela deve fazer. Ela vai acabar aprendendo.
#10. Elogie, faça festa, comemore sempre. Seja um xixi perto do penico, a tentativa de fazer cocô ou mesmo uma calcinha seca por vários minutos. Eu comecei dando adesivos pra Lily, mas pra falar a verdade, ela não ligou muito e somente a comemoração a cada vitória dela bastou pra manter ela motivada.
#11. Jamais ofereça adesivo (ou outro prêmio) em troca pelo xixi ou cocô. Ela tem que fazer xixi porque está com vontade, não porque vai ganhar algo.
#12. Soneca. Não coloque fralda pra ela dormir! Faça o possível pra colocar a criança pra dormir logo após ela ter feito xixi (seja no penico ou na roupa). Normalmente as crianças permanecem secas durante a soneca, mas vale a pena ficar do lado dela enquanto ela dorme.
#13. De noite. O método pressupõe que a gente tire a fralda por completo, pedindo a criança pra fazer xixi antes de deitar e acordando ela por volta das 11 pra fazer. Com a Lily a gente deu sorte que deu certo, mas conheço muita mãe que optou por colocar pull-ups pra dormir e acho que tudo bem.
#14. O cocô – Em geral é o maior desafio pras crianças. Se a criança está com medo de fazer no penico, a dica é deixar que ela comece a fazer na roupa mesmo e carregá-la pra terminar no banheiro, jogando o cocô no vaso ao mesmo tempo que ela se senta.
#15. Não se esqueça! Em qualquer circunstancia, por mais desagradável e inconcebível que lhe pareça, trate sempre a criança com amor e consideração. Ela é pequena e está aprendendo!
OUTRAS OBSERVAÇÕES
– A criança deve usar roupas leves – apenas uma camiseta e a cueca ou calcinha. Não coloque vestido pois atrapalha você ver se a criança está começando a fazer xixi e complica um pouco na hora de sentar no penico.
– Ajuda se você der mais líquidos pra criança nesses dias, pois daí vocês terão mais chances de treinar as idas ao banheiro. No caso da Lily, eu dei muito no primeiro dia (suco, picolé, água), mas chegou num ponto que eu senti que ela começou a ficar frustrada, pois era um xixi atrás do outro e não dava nem tempo dela processar direito o que tava acontecendo. Então, aumenta um pouco os liquidos, mas não tanto.
– Jamais deixe passar nenhum acidente sem que você veja e atue.
– Repetindo: Seja consistente. Seja paciente. Seja amorosa. Essa experiência tem que ser positiva pra criança!
– Do que você vai precisar: Penico(s) ou redutor de vaso sanitário, cuecas ou calcinhas (cerca de 20 a 30), lenços umedecidos, líquidos, lanchinhos (incluindo frutas, que têm muitas fibras), presentinhos (adesivos, pequenos brinquedinhos, chocolatinhos) e muito material/brinquedos/livros pra desenvolver atividades com a criança e ajudar a passar o tempo.
A EXPERIÊNCIA COM A LILY
Eu acho que peguei ela no momento exato, quando ela estava com a mente aberta pra novas experiências. Se eu tivesse deixado ela ficar mais velha talvez o resultado não teria sido tão rápido.
Dia 1 – No primeiro dia ela teve milhões de escapadas de xixi e em todas eu levei ela pro penico imediatamente enquanto repetia a frase desfraldante. No final da tarde ela começou a comunicar que queria fazer xixi, mas estava eufórica demais pra fazer todo o xixi de uma só vez, então fazia às prestações e muitas vezes na calcinha (enquanto pulava de emoção). A soneca foi sequinha e consegui colocar ela pra dormir logo após uma escapada grande de xixi no chão. De noite foi o momento mais tenso. O método sugere retirar a fralda por completo, então decidimos arriscar pra ver no que dava (detalhe: ela nunca tinha acordado seca na vida antes, mas por ela ser novinha, quando o “click” acontece de dia, em geral acontece de noite também). Então pra evitar o colchão molhado, primeiro coloquei um protetor plástico por baixo do lençol e levei ela pra fazer xixi por volta das 11. Ela não queria fazer de jeito nenhum, mas consegui convencê-la falando pra ela fazer um xixi-chuva pra eu ver. Ela gostou da ideia, fez, voltou a dormir, e pra nossa surpresa, acordou sequinha no dia seguinte!
Dia 2 – Foram somente dois acidentes pela manhã e o resto do dia ela fez todo o xixi no penico! Como ela já estava pedindo pra ir, nesse dia eu comecei até a pintar uma parede da minha casa que há muito eu queria! (haha, não sei ficar quieta). Não era nada que exigisse muita concentração, então funcionou. Ela estava tão bem, que no final do dia até começou a ir sozinha pro penico, sem me pedir, mas mesmo assim eu corria pra ajudar ela a se limpar e lavar as mãos. No entanto, quando o papai e o irmãozinho chegaram do passeio que fizeram, ela ficou eufórica demais e teve duas escapadas seguidas (acho que ela perdeu o foco do processo por um momento). Por isso a importancia de tentar manter uma rotina previsível nesses dias de desfralde. A soneca e a noite também foram sequinhas!
Dia 3 – Poucas escapadas de xixi e nada do cocô – eu estava começando a ficar preocupada. Durante a soneca ela fez um pouco de xixi no berço, após dormir por 1 hora. De noite ficou seca.
Dia 4 – Dia excelente com nenhuma escapada de xixi – ela passou o dia todo com a mesma calcinha. Nesse dia até cheguei a levá-la na loja pra comprar um pincel (pra eu terminar uns detalhes na pintura da parede, haha). Ela foi sem fralda e avisei que o penico estava na parte de trás do carro, então se ela quisesse fazer xixi era só me falar que eu pararia o carro. Não precisou. Esse dia foi tão bom que ela até assistiu Mary Poppins e parou pra fazer xixi no meio do filme! A soneca foi seca e no final do dia ela começou a mostrar vontade de fazer cocô, mas toda vez que sentava no penico ela ficava aterrorizada e levantava sem fazer. Até que de repente ela fez um pouquinho, depois mais um pouquinho e ficou por isso mesmo.
O cocô: foi a parte mais complicada do processo e só depois de 2 semanas é que ela se sentiu confortável pra fazer no penico. Durante essas duas semanas ela chorava muito com medo e passava o dia todo tentando, mas ao sentar no penico ela se levantava imediatamente e dizia que não queria mais. E quando finalmente fazia, era por prestações (um dia chegou a fazer em 8 partes!). Foi complicado especialmente se a gente precisava sair. Nesse meio tempo ocorreram VÁRIOS acidentes na calcinha (algumas vezes tive que jogar fora), mas assim que ela fazia eu levava ela pro vaso pra terminar lá. Num belo dia, ela disse que queria fazer cocô, meu marido a levou, pegou o violão e começou a tocar enquanto ela tentava e foi a primeira vez que ela fez tranquilamente e de uma só vez. A partir desse dia ela tem feito sempre sem problemas.
O xixi: não tem nem 3 semanas que ela desfraldou e já fizemos todo tipo de passeio de carro com ela, com apenas 1 escapada. A maior parte dos dias ela passa sem escapada nenhuma, mas eventualmente tem uma ou outra. Apenas um dia ela teve 4 acidentes no total, mas foi um caso isolado. A maioria das sonecas são secas e as noites também, e se de vez em quando acontece um acidente, e tudo bem, faz parte.
CONCLUSÃO SOBRE O DESFRALDE DO NIC
Eu nunca vou saber se esse método teria sido ou não eficaz com o Nic, mas sinto que sim. Eu só comecei o desfralde dele quando ele já tinha completado dois anos e meio, mas me lembro que por volta dos 2 ele começou a apresentar interesse em tirar a fralda. Nessa época, eu analisei a lista de sinais de que indicam se a criança está pronta ou não, e achei que ele não estava, então resolvi esperar (que pena!). Quando por fim eu comecei, eu perguntava a ele com frequencia se ele precisava fazer xixi e a resposta era sempre “NÃO”; então eu ficava inventado formas de convencê-lo a ir ao banheiro. Ou seja, fazendo isso, eu não deixava que ele percebesse os sinais do seu corpo, pois quem estava liderando o processo era eu, não ele. Além do mais, eu estava sempre pedindo a ele que se sentasse no penico e tentasse fazer xixi. Ali sentado a gente lia livros, cantava músicas e inventava histórias, até que chegou num ponto que ele tomou birra de tudo por completo. Ele odiava o penico, os livros sobre penico, e todo o processo de desfralde. Se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente, com certeza.
PS: Eu escrevi tanto e mesmo assim faltou falar muita coisa. Se você quer ler o método em detalhe, vai nesse site aqui, onde a apostila está à venda (em inglês). E não, a mãe que escreveu esse método não está me pagando pra fazer propaganda pra ela. Na verdade ela nem sabe que eu existo. 🙂
PPS: Se tiver dúvida, pode me perguntar à vontade, que se eu puder ajudar, eu respondo nos comentários.