O lado cômico da maternidade

Vi monstro, escrevi livro, virei travesseiro, mas queria mesmo era ser o Mussum

41 Comentários

Eu tinha 5 anos quando vi meu primeiro monstro, o Nic tinha pouco mais de 4 quando começou suas primeiras perguntas transcendentais e a Lily tinha 14 meses quando resolveu me fazer de travesseiro.

Tudo no mesmo nível de importância. Aparentemente.

Ver monstro pra mim era coisa trivial, todo dia eu via um. O Monstro de Bolinha foi o primeiro, com uns 4 metros de altura ou mais, todo feito de bolinhas brancas empilhadas – até simpático, ele. Me apareceu em plena luz do dia, no quintal da minha casa. Olhei pra ele e saí correndo, que não sou boba, mas meu medo mesmo era daquelas bolinha tudo desmoronarem no chão e me derrubarem feito boliche. Ou quase, já que seriam várias bolinhas pra um pino só. No caso, eu.

Isso sim, teria sido loucura.

Eu&irmaos

Estaria meu irmão vendo o Monstro de Bolinha?

Depois dele, virou festa. Passei a ver extra-terrestres, monstros peludos no telhado, passarinho voando com uma asa só (tenho quase certeza), monstro pernicioso que atravessava a porta de vidro da nossa casa mesmo com ela fechada (e minha mãe insistia que era sombra da árvore. Aham, sei.), e cheguei até a ouvir barulho de estrela piscando. Coisas desse naipe se tornaram tão comuns na minha infância, que me pareceu normal criar pra mim mesma um passado alienigena e até escrever um livro de terror aos 13 anos de idade. Believe me.
photo

Uma história sinistra, sobre um baú secreto escondido num porão obscuro. Onde estará?

Acho que por causa desse meu background tenebroso, cresci destemida e corajosa, sabe? Nunca nada me assustou nessa vida. Exceto baratas. E marimbondos. E lugares altos. E pessoas que adoram contar como gostam de lugares alto. E galinhas da Angola (vem me dizer que não são assustadoras!). Ah claro! E o bonitão da bala Chita.

1067612867_f[1]

Como não?

Hoje em dia, eu adoro filmes de terror e suspense, mas confesso que nada me dá mais frio na barriga, que as perguntas que meu filho anda me fazendo. Não existe hora certa pra perguntas difíceis, né? Não importa o quanto a gente já pensou e ensaiou as respostas, elas sempre nos pegam desprevenidos. Ultimamente, ele tem escolhido justo quando estou fazendo comida e jogando Candy Crush simultaneamente (pra não dizerem que perco tempo com joguinhos).

Ele começa assim “Mamãe…” com uma vozinha super doce e fofa como quem vai dizer “você é a melhor mãe do mundo”, mas ao invés, completa com um”por que que a gente morre?” ou “como os bebês são feitos?“.

Isso sim, é de estremecer qualquer estrutura.

Me dá um Monstro de Bolinha sentado no murinho da cobertura de um prédio de 200 andares comendo um saco de bala Chita, mas não me pergunta porque que a gente morre, que isso me mata.

* * *

Pra completar, noite dessas, dormi toda enrolada feito uma lagarta pronta pra virar borboleta. Em certo ponto da noite, quando já estava quase amanhecendo, comecei a sentir um determinado incômodo, um desconforto. Eu ainda estava semi-dormindo, mas sentia que algo me atrapalhava, me imobilizava. Eu tentava me virar e não conseguia. Mexer a cabeça, não dava. Freddy Krueger, é você? – sonhei. Acordo com o clique de uma câmera fotográfica, um hi-hi safado bem baixinho, até que vejo a mão do Rafa se estendendo na frente do meu rosto me mostrando a cena da qual eu fazia parte.

Essa.

travesseiro

Um travesseiro sobre o outro

Nesse momento, me dou conta no que eu havia me transformado: um mero travesseiro. Pra minha filha. Que nunca havia dormido. Tão. Bem.

* * *

A mesma filha, que aos 16 meses já fala VÁRIAS palavras. Tipo, umas cinco. E que ao invés de “Nei”, como ela costumava chamar o irmão Nicolas, agora chama ele sabe de que?

Eu: De-dé! A Lily agora chama o Nicolas de Dedé, acredita? Assim que nascem os apelidos bizarros nada a ver.

Rafa: Pois é, o meu era “Coté”, por causa da minha irmã Fernanda.

Longa pausa pra me recuperar de tanto rir.

Eu: COTÉ? CO-TÉ? Tem certeza?

Rafa: Eu já tinha te contado isso, sua boba.

Eu: Eu sei, mas é sempre bom tirar sarro da sua cara! Coté é pior que Dedé, cá pra nós! O Dedé era sem graça, mas pelo menos era um dos Trapalhões. Você teria tido mais sorte se ela tivesse te chamado de Tião Macalé. Melhor que Coté, né não?

Rafa: Ha-ha.

Eu: E sabe como a Lily tá se chamando? Didi! Quer ver? Lilinhaaaaa! Fala “Lily”!

Lily: Didi!

Eu: Viu? O que deixa o Mussum pra mim e o Zacarias pra você!

Rafa: Por que o Zacarias pra mim? É você quem se amarra numa peruca!

Eu: Putz, falou tudo… E agora? Tava tão empolgada que eu fosse poder ficar falando “forevis” e “cacildis” o dia todo!

Rafa: Que pena.

Eu: E coraçãozis.

Rafa: É né?

Eu: E Nicolilandis por aízis.

Rafa: (…)

Eu: E Lucianis, e Lilis, e Nicolis.

Rafa: Você não vai parar, vai?

Eu: E Rafis…?

trapalhoes

Juro. Ainda preferia ser o Mussunzis

41 pensamentos sobre “Vi monstro, escrevi livro, virei travesseiro, mas queria mesmo era ser o Mussum

  1. Ai Lu! Adorei! Também sou travesseiro da Clara, viu? Serve de consolo? Beijos!

    • Super serve de consolo! Engraçado que o Nic também dormia com a gente, mas nunca tinha me feito de travesseiro. Essa é nova pra mim!!! 🙂

  2. Lu, me dá um teco desse negócio que você toma pra ficar doidona e criar esses textos? Só um tequinho, vai? hahahahahahahaha…. beijos, adorei! 🙂

  3. Eu via um monstro chamado “Bicho preto”, que era um bicho peludo, enorme, preto (é claro) e que estava sempre com um guarda-chuva aberto, ele costumava se esconder atrás das portas, mas o “Bonitão da bala Chita” é pior…kkkk

  4. Lu estou aqui morrendo de rir… fiquei imaginando essa conversa toda entre vocês. Muitos fantasmas, hein!? Personagens incríveis que passam a fazer parte da nossa vida… rs rs rs
    E você… sempre demais! Escreve cada texto, inspiradores… Beijos, beijos

    • Obrigada, Celi! Ta vendo só? Enquanto a maior parte das menininhas da minha idade estavam brincando de boneca ou decorando o caderno com canetinhas de cores diversas, eu estava lá, correndo de monstro e escrevendo livro de terror.

      Acho que só isso dá pra explicar um pouco da loucura de hoje, ne? hahahaha

      Beijos

  5. Ah, ri demais, só pra variar!!!!
    E essa bala chita, que é uma delícia, sempre me perguntei se não tinham um bichinho mais assustador do que esse pra colocar, cruz credo!
    beijos

    • Bizarra essa bala, ne? hahahahaha Pelo menos o pessoal da propaganda era mais ousado naquela época. Hoje em dia é balinha com desenhos engraçadinhos e populares. Tem que colocar viseira nos menino pra ir ao supermercado! 🙂

      Beijos, obrigada, querida!

  6. Você demora pra postar, mas quando posta, é caprichado, hein? Hilário, Lu!! Adorei!!! Alice quando começou a falar, chamava a Laura de Táta. E ficou Táta até hoje. O André que continua com o apelido da Laura, Alice já chama pelo nome mesmo. Tão fofo isso, né?

    Adorei a história dos monstros! Teu livro! 🙂 Super bacana!

    Beijo!

    • Obrigada, Ana!

      Adorei saber do apelido da Laura! Ta vendo? O meu era Tetéia. Imagina se tivesse ficado? hahahaha

      Sobre o livro, esse é outro! O dos monstros que te contei, ainda não tá todo no papel. Será que vou ter que assistir a outra palestra do Oliver Jeffers pra ter inspiração de escrever o resto? 😀

  7. kkkkkkkk, ri demais! Escreveu até um livro, puxa, rs.

    BeijO!

    • Obrigada, Andreia! E não foi só esse livro que escrevi na minha adolescencia, mas foi o unico que sobreviveu até os dias de hoje. 😀

      Beijos!

  8. Hahahaha!!!!!
    Só nao dei mais gargalhadas em alto e bom som porque to no trabalho, digamos numa pequena pausa pra lanchar e rir até agiota desse post!!!!
    Sabe que nao me lembro do Rafael ser chamado assim…. Nem o pessoal daqui de casa deve lembrar !!!! Pelo menos nunca chegamos a falar disso…. Me lembro que a Tia Bau tem esse apelido por causa do Tio Wellington que chamava ela qdo era pequeno. E olha que o nome e Consuelo, hein?
    Beijos !!!!!

    • Fabiana! Eu sempre me perguntei “por que tia Bau”??? O Rafa nunca soube me responder!

      Agora, Coté é demais, ne? Será que sua mãe se lembra disso?

      Beijos!

  9. Lindona! Morri de rir! Sério, vc e a Roberta deviam escrever um dueto de textos malucos que nos fazem rir! Adoro! Lily tá linda! Por aqui tb sou travesseiro, Pedro se aninha por cima de mim, ou fica deitada espremido no buraco entre meu travesseiro e o dele, aiai. Beijos!

    • Nossa, um dueto com a dona Rô seria de uma surrealidade sem tamanho! hahahahaha

      Nine, e essa noite, quase virei colchão, acredita? O negócio ta piorando. Ela subiu em mim como se fosse cavalgar num ponei e deitou – tudo dormindo! Mas quando dei uma viradinha pra ela voltar pra cama, a bichinha acordou, claro!

      Danada, viu?

      Abraços solidários!

  10. Dá pra perceber que gostava das aulas de desenho geométrico da escola! A capa tem uma mistura de ponto de fuga com perspectiva isométrica. Influências de Picasso?

    O Davi não só gosta de nos usar de travesseiro, também usa de aquecedor e de saco de pancada para prática de Mixed Martial Arts noturna. Sai cada chute!

    • É mesmo! Não tinha reparado que era tudo geométrico! hahahahaha Mas adorava mesmo!!! 😀

      E outro que já virou travesseiro pro filho? Ah, tô me sentindo TÃO bem melhor agora!!! O Nic também praticava artes marciais com a gente, mas travesseiro nunca! E hoje em dia, quando ele vem pra nossa cama quando o pai viaja, dorme tão quietinho que eu até me esqueço que ele tá ali do lado. 🙂

      #milagresdavida

  11. Enqto não paro de rir, quero o mesmo que a Cintia! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

  12. haha, q loka vc com suas estorias…para comecar bem o dia!!,,,,a Lily ta uma fofa durmindo assim, coitada de vc..mas o tempo passa e depois vc vai ficar com saudades de tudo isso ne?? buuu…
    minha Irma se chama Melina, mas Sofia nunca conseguia dizer Melina ao contrario chamava ela de tia Mane…ja viu ne?? ainda bem q ela nao entende o q ‘e Mane, hahaha. Beijos!!

    • hahahahahahaha

      Ainda bem mesmo que sua irmã não entende o significado de Mané! As bênçãos de não falar portugues!

      Besitos Giselle!

  13. Vc é surreal Lu! Não consigo parar de rir para fazer um comentário mais “inteligentis” kkkkkkkk

  14. Lulis, quasis caisis da cadeiris de tanis risis!!!!!! ahahahahahahahahahahahahahahahah

  15. Ah, em tempo…. eu não me lembro de ver monstros não… mas tinha um medo danado de BALEIA!!! ahahahah…. sempre via uma nadando debaixo da minha cama. Beijos.

    • hahahahahaah! Uma baleia, Barol? Essa foi boa!!!! Ta vendo? Sempre encontro pessoas que se equiparam pelo menos um pouco comigo na loucura!

      Beijos e até breve!!!

  16. MEODEOS!! Ri alto aqui Lu!! hahahahahahahaha como assim?????
    Adorei a foto, quase morri de amores…. a Laura faz isso tbm, com a diferença que, um pouco maior, coloca os pés na fuça do pai. E a cabeça por cima da minha. Mãos devidamente ágeis me agarram pelo pescoço tbm.
    Fofas. Amo!

    E a o monstro da bala chita??? Hahahahahahahaha

    Lu, adoro… vc demora a escrever, mas quando faz…. é direito!!! amei!!!!
    Beijos grandes e até dia 07!!!
    =)

    • Dani, esse negócio de cama compartilhada sabe ser conveniente e INconveniente, ne? hahahaha Adoro saber que tem outras pessoas no mesmo barco que eu! 😀

      Beijos e até breve!!! Eeeeeeehhhhhhh!

  17. Primeiro uma bronca: voce não deveria ficar tanto tempo sem escrever. Agora o elogio: AMEEEEEI e ri alto com “Me dá um Monstro de Bolinha sentado no murinho da cobertura de um prédio de 200 andares comendo um saco de bala Chita, mas não me pergunta porque que a gente morre, que isso me mata.”
    Tu é uma figuraça !!!!! Vê se dá esses prazeres pra gente mais vezes tá?

    beijos !

    • Ai Lu, como eu queria escrever mais!!! Tem tanta bobeira aqui dentro dessa cabeça pedindo pra sair! hahahaha

      Beijos e muito obrigada, ta? Adorei o comentário!

  18. – Lu, que garotinha linda você era!!! E quanto cabelo amiga! A Lily por enquanto perde feio pra vc. Hahaha. Vamos aguardar ela chegar neste tamanho.

    – Loucura em tenra idade é essencial pra certas pessoas. Pensa no quanto sua mãe temeu que vc desse errado na vida com essas visões. No entanto hoje, virou artista. Que progresso. I’m proud of you.

    Kkkkkkkkkkkk

    – E esse livro?!?! Todo ilustrado com tanto capricho?!?! Pq diabos vc tentou geologia? Imagino que tivesse sido uma excelente profissional, mas o lance das artes já gritava com vc nesta idade, não?

    – Bala Chita… sem comentários. Talvez nem durma essa noite.

    Apesar de odiar filmes de terror, suspense e afins, sério, fico sem dormir uma semana se assistir, as perguntas do Nic são de deixar qlq um com insônia. Tenho sobrinhos de 9 anos que andam perguntando pra minha mãe se ela transa com meu pai. Prepare-se, eles ficam bem diretos mais tarde.

    – Lily te fazendo de travesseiro: até dormindo essa menina consegue ser assim tão gostosa? Dá vontade de apertar taaaaaaanto.

    Beijis na bochechis Zacarizis.
    Tatis.

    PSis: chorei de rir com esse post.

    • – Pois é, Tati, eu sempre tive muito cabelo! Por isso que quando o Nic nasceu careca eu fiquei bolada. Daí, na vez da Lily nascer, jurava que também fosse nascer carequinha e veio aquela menininha toda cabeluda! Ou seja, fui surpreendida duas vezes! hahahaha

      – Obrigada por considerar o meu “eu” de hoje um progresso! hahahaha Mas TENHO CERTEZA que ainda assusto minha mãe com minhas loucuras remanescentes da infância. Tá, ela assusta, mas se diverte pra caramba também, hahaha

      – Estranho pensar que fiz geologia, ne? Mas acho que são meus lados opostos brigando – o lado exato que ama física, química e matematica e o lado artístico, os dois querendo aparecer! hahahahaha Sem duvida os dois sempre caminharam juntos, desde pequena.

      – Menina, que horror. Nem sei o que eu falo se o Nic me perguntasse uma coisa dessas. Chego a corar. hhahahahahaha

      – Pois eu aperto, Tati, e muito. Aperto pra mim, pra vc, pra todo mundo! hahahah

      Brigadis, tá?

      Ah! Adorei o PSis! hahahahaha Boba! 😀

  19. Ei Lu! Adorei o texto!!! A parte do Trapalhões então, ótima kkkk Muito fofa a Lily te fazendo de travesseiro, maezona vc! Bjs

  20. Eu também amo filmes de terror e suspense. Mas medo mesmo vou sentir quando o Nino começar com essas perguntas. Vira e mexe ele me surpreende e me assusta com algumas perguntinhas e sei que esta começando.
    Ahhh por aqui também sirvo bem de almofada!!! Sei bem a saga de ser uma almofada.
    Bjo bjo bjo

  21. Adorei KKKKKKKKKKKKKK. Morri de rir com a parte dos trapalhões.

  22. Lu de Deus…
    acho que só agora vi esse post. mas queria te dizer que essa foto sou eu com o Otávio em cima? aff
    aqui é SEMPRE assim, ou é com o pai, ou é comigo. sem mais. é bem assim… que coisa!
    como as crianças podem ser tão iguais?
    será que já vem assim de fábrica? rs

    beijooos

  23. Pingback: O galinheiro, o sassariquento e o ataque do coala noturno |

  24. Pingback: O dia que eu descobri que tem coisa pior que fazer book fotográfico |

Deixar mensagem para Ana Cancelar resposta